Reflexões a partir da conversa com
Bernard Charlot
Em
primeiro lugar, embora seja inquestionável, gostaria de pronunciar que foi uma
emoção e uma grande satisfação ter tido a oportunidade de conhecer pessoalmente
o prof. Charlot...
Foram
tantos assuntos importantes que ele falou que não saberia eleger um para fazer
um comentário, porém, optei por fazer meus comentários acerca de algumas afirmações que ele fez durante a tarde
do último dia 03. Uma dessa afirmações é sobre “a escola ser um lugar de
aprendizagem, mas também de socialização”. Optei por partir dessa afirmação
para discorrer um pouco sobre algo que já havia feito em minha dissertação
quando procurava discutir a importância da escola ser inclusiva e quais são os
pressupostos que devem embasar a construção de uma escola inclusiva, portanto,
minhas considerações, reflexões e perguntas aqui descritas partem desses
pressupostos que a meu ver estão de alguma forma “conectados” com os
pensamentos do prof. Charlot.
É
necessário que a escola busque ensinar a todos os seus alunos e com qualidade!
Porém, torna-se também fundamental que a aprendizagem seja entendida como um
processo de construção, transformação, intervenção na realidade, mudanças de
conceitos e paradigmas não somente voltado para os conteúdos conceituais, mas
também àqueles procedimentais e atitudinais... Estes conhecimentos devem estar
atrelados à cultura e à vida cotidiana e em última análise à socialização. Esta
socialização, de acordo com COLL, 1995, citado por Miralha, 2008, essa interação
mediada pelos signos, em especial a linguagem possibilita ao sujeito, para além
de uma mera “socialização” no sentido de compreender e seguir regras sociais,
aprender e apreender a mediar suas relações com o mundo, através dos símbolos e
dos signos, influenciado na forma como planeja e executa suas ações, em suas
habilidades cognitivas, na sua forma de perceber e compreender o mundo.
De acordo
com alguns estudiosos da área educacional, o aluno ao aprender os conteúdos
acadêmicos, por exemplo, devem também aprender a se relacionar com esses
conhecimentos. Toda relação com o saber é, indissociavelmente, uma relação
singular e social, é uma relação com o outro, estabelecida de diferentes
formas.
Cada indivíduo pertence a diferentes instituições,
tais como: família, espaços religiosos, escola e etc, dentro das quais as
relações com o saber são diferentes. A escola, por sua vez, é um lugar que
induz relações com o saber, o que estabelece uma dialética entre interioridade
e exterioridade: aprender significa tornar algo seu, interiorizá-lo, mas também
significa apropriar-se de uma prática, de uma forma de relação com os outros e
consigo mesmo.
Na medida em que o indivíduo aprende, ele se
humaniza, se subjetiva/singulariza e se socializa.
O sujeito constrói sua identidade, sua forma de ser
e de lidar com o saber, que só é possível pela intervenção do outro: o outro
que medeia o processo, o outro interiorizado que cada um traz em si e o outro
resente nas obras produzidas pelo ser humano (CHARLOT, 2001).
Diante disso, é preciso que pensemos sobre as
intervenções e mediações que nós enquanto profissionais da educação temos feito
com os estudantes de nosso país? Quais identidades estão sendo construídas a
partir de nossa intervenção? Como estes alunos estão se relacionando com a
escola e com “os saberes” que ela deve proporcionar? O que a escola tem
significado aos alunos? Qual a visão de mundo que estes alunos estão
construindo?
Diante disso, também coloco para a reflexão outro
aspecto apontado pelo prof. Charlot em sua fala – “precisamos mobilizar e não
apenas motivar os estudantes para a aprendizagem”. E, de acordo com Charlot
(2001), a relação entre “o desejo e o saber” estão diretamente atreladas entre
o aprendiz e aquilo que estão tentando lhes ensinar.
Estes questionamentos são para todos nós; estejamos
atuando dentro da escola ou não, pois se fazemos parte de um Programa de
Pós-Graduação em Educação temos um compromisso com a educação de nosso país...
CHARLOT, Bernard. A noção de
relação com o saber: bases de apoio teórico e fundamentos antropológicos.
In: CHARLOT, B. (org.) Os jovens e o
saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001.
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