A
PEDAGOGIA TRADICIONAL E A PEDAGOGIA NOVA
Maria Ângela
Rubini
A educação tem sido
centro de importantes debates no Brasil e no mundo. Analisando
cronologicamente, partindo da Educação Pública Religiosa (séc. XVI e XVII) à
Educação Pública Democrática (séc. XX), observamos a trajetória das políticas
educacionais marcadas por transformações introduzidas no sistema nacional,
identificando os avanços e retrocessos, buscando assumir um compromisso que
interfira no processo de ensino e aprendizagem, considerando o cidadão do
século 21 e suas necessidades.
Charlot, (encontro
UNESP, 03/10/14), menciona essa questão ao trazer em pauta, reflexões sobre a
Pedagogia Tradicional e a Pedagogia Nova, analisando as diferentes concepções filosóficas
que cada uma contempla, contribuindo para a formação docente, na clareza que se
deve ter, em direção a uma escola de qualidade, comprometida com a mudança
social.
Na pedagogia
tradicional, a infância é concebida como corruptível, a natureza humana trava uma
luta consigo mesma, pois é nesse período em que o vício e o erro brotam. Por
não ter a personalidade formada, a criança está disponível e vulnerável, é
fraca e é atraída pelo mal; Nada tem de inocente, ainda traz em si o pecado
original. O diabo à tenta e ela não faz nada para combatê-lo. Essa concepção
acredita que se deixar a criança livre por alguns instantes, ela se deixará
levar pelo mal. Sendo incapaz de agir com razão, a criança deve então ser
guiada e obedecer ao adulto que já possui experiência e a protegerá dos
perigos.
A pedagogia tradicional
tem por objetivo educar a criança impondo-lhe regras e disciplina, a prática é
permeada pelo autoritarismo, exigindo dos alunos silêncio e imobilidade,
posicionando-os em fileiras, apoiando-se na pedagogia da antinatureza.
A pedagogia nova tem
uma interpretação de infância corruptível contrária à pedagogia tradicional.
Ambas concebem a natureza da criança como corrupta, porém a pedagogia nova
defende a infância como período de inocência que deve ser protegido, porque ela
não é naturalmente corrupta.
Diferentemente da
pedagogia tradicional, a pedagogia nova valoriza a expressão livre da infância:
desenho livre, brincadeira livre, texto livre, etc. Há uma necessidade de
respeitar a criança, o fato dela ser inacabada, é positivo, significa que ela
está se desenvolvendo, experimentando, esse processo não deve ser perturbado
porque ela está amadurecendo, e sendo assim, ela é julgada em função do
conhecimento adquirido e não do que lhe falta. Essa fase não é maldita, antes
sim, é um período de humanidade, onde a inocência, a liberdade, a espontaneidade,
a confiança se faz presente. Ao se tornar adulto, o individuo perde esses
valores para a cristalização corruptível presente no homem.
Para a pedagogia
tradicional e para a pedagogia nova, a natureza da criança é corruptível, a
diferença é que para a tradicional a natureza humana corrupta é original,
enquanto que para a pedagogia nova é social. Essas duas vertentes argumentam em
como desenvolver um sujeito plenamente realizado, mas ambas não consideram a
realidade social. A pedagogia nova propõe uma ruptura cultural com a pedagogia
tradicional, mas no campo educacional, pouco contribuiu para mudanças na
reprodução das desigualdades sociais, suas discussões ficaram no nível filosófico-religioso.
Postas as considerações
sobre essas duas pedagogias na história da educação brasileira, Charlot fala
sobre a dependência da criança em relação ao adulto. Ela nasce e cresce, filho
de burguês ou de proletário, num meio que certamente a influenciará, mas não
será fator determinante para o seu sucesso ou fracasso escolar e cita como
exemplo, duas crianças de uma mesma família que podem obter resultados escolares
diferentes. Isso nos mostra que a criança ocupa um lugar na sociedade, essa posição
se desenvolve no convívio com os adultos e outras crianças, embora a sociologia
da reprodução estabeleça uma relação entre posição social e sucesso ou
fracasso, Charlot afirma que é preciso considerar a historia singular do aluno
e as relações que ele estabelece com o saber.
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