Comentário da conversa com Bernard
Charlot.
Joyce Cristina Claro Menoti
O professor
Charlot inicia a aula abordando o conceito de ideologia na educação,
baseando-se na concepção de ideologia de Marx, na qual, consiste em um sistema
de ideias que expressam a realidade e ultrapassam a realidade. Posteriormente,
contextualiza esta definição com as práticas pedagógicas (nova e tradicional)
no cenário brasileiro atual e afirma que existe uma dicotomia entre o novo e o
tradicional, uma vez, que os professores têm que dizer que exercem uma prática
pedagógica construtivista (fica somente no discurso) enquanto, na realidade,
desenvolvem práticas pedagógicas tradicionais devido às desigualdades de
oportunidades.
Na
ideologia da “igualdade de oportunidades” todas as crianças devem ter a mesma
chance de oportunidades, no entanto, as igualdades de oportunidades são
realmente iguais para todas? Para o professor a cultura escolar de baseia na
cultura da classe dominante e sendo assim, os alunos que provêm dessa cultura
têm mais chance ao sucesso escolar, do que aqueles que derivam de culturas de
classe popular, já que a escola não é ambiente neutro de ofertas de
oportunidades, mas instância de reprodução e legitimação da cultura da classe
dominante. E nessa tendência a escola passa a ser um lugar para se conseguir
diploma não tendo sentido para o aluno.
A partir
destas constatações chega-se a indagação dos motivos que levam ao fracasso escolar.
Para Charlot não há uma causa determinada para o fracasso escolar, há que se
saber a causa para descobrir a solução e considera que o fracasso ou o sucesso
escolar é construído a partir das relações com a escola e com o saber. Por
exemplo, (dado na aula) o filho de médico se não estuda, fracassa, o filho do
pedreiro se estuda, chega ao sucesso. O que interfere é o fato de estudar, mas
há que se levar em consideração as oportunidades de igualdade de estudo que
eles tiveram (se tiveram).
O professor
aborda, também, que na tentativa de superar tais desigualdades as tecnologias
estão sendo inseridas no ambiente escolar. Ele não se posiciona contra tal
medida, no entanto, atenta para o cuidado de não se confundir informações com o
saber, visto que, dessa forma a escola continuará contribuindo para a
desigualdade social.
Neste
sentido, para que o aluno aproprie o saber escolar, ele deve estar mobilizado
em relação à escola e para que isso ocorra a aprendizagem deve fazer sentido
para ele, a atividade deve ter um sentido e relacionar-se com outras coisas que
o sujeito já encontrou no mundo, ou seja, considerar que na relação com o saber
haja: 1- o saber percebido como objeto, 2- o saber visto como saber-fazer e 3-
saber visto como relacionar-se, ultrapassando a realidade e dando importância
ao movimento interno do sujeito.
Finalizo
meu comentário com a citação do professor Bernard Charlot, contida no prefácio
da obra: A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos
na teoria da educação: “Eu considero hoje que não se pode pensar a educação sem
levantar, ao mesmo tempo a questão da desigualdade social, a do sentido, a da
atividade e, indo até o fim do caminho, a do sujeito e do seu desejo.” p.47.
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