Dewey, as
Ciências Cognitivas e a autonomia das máquinas.
João Ferreira Filho
Segundo Dewey
há uma tendência muito forte e de antiga tradição que nos prende a
racionalidade, no entanto nós não podemos ficar presos apenas à racionalidade e
desconsiderar ou negligenciar as emoções.
Os racionalistas,
a exemplo de Descartes, descartaram toda possibilidade de percepção como
caminho à verdade (a experiência cotidiana é desprezível) e instalaram a dúvida
metódica.
Dewey critica
este dualismo que supervaloriza a mente em detrimento da experiência. Ele não
concebe este dualismo de conhecimento que separa conhecimento científico de
conhecimento comum; é a tradição filosófica que busca demonstrar que o ato de
teorizar é completo por si só, o que conduz a supervalorização da mente/razão e
detrimento de toda e qualquer experiência.
[...] essa separação se
mostra especialmente perniciosa quando o conhecimento comum é menosprezado,
quando as emoções são consideradas meros elementos que perturbam a razão,
afecções ou patologias de que ela deve afastar-se para a obtenção de um
conhecimento puro, estável e universal, não confundido pela dinâmica da vida,
suas constantes mudanças e desafios. [...] O estável e o constante nos agradam,
ao passo que a mudança e a inconstância nos assustam. (Bronens, Andrade, Pilan,
p. 26)
É pela
integração entre razão e ação que a aprendizagem acontece, num movimento de “fluxo
e refluxo” contínuo de experiências indissociáveis entre si, “nessa dinâmica de
interação ativo-passiva com e do ambiente” – entre o racional e a experiência
que se dá a transformação do hábito em conhecimento reflexivo. Ai se dá o
conhecimento de fato.
Quando uma atividade
continua pelas consequências que dela decorrem [...], quando a mudança feita
pela ação se reflete em uma mudança operada em nós, esse fluxo e refluxo são
perpassados de significação. Aprendemos alguma coisa. (Bronens, Andrade, Pilan,
apud Dewey, 1959, p.152)
Conhecimento
implica em mudanças. Minhas experiências permitem prever acontecimentos
futuros, mas isto não é infalível, assim quando acontece o erro, o organismo
utiliza-o em experiências futuras, reaproveita-o em novas experiências. Por
isto estamos em constante processo de aperfeiçoamento participativo e interativo
O hábito por si
só não trás conhecimento é preciso a reflexão sobre o fato, é preciso que a
ação se torne uma ação inteligente capaz de buscar as alterações futuras.
Na mesma linha
cartesiana, mas pensando além, está a Filosofia Cognitiva ou da Mente que busca
produzir modelos mecânicos da mente, merecendo especial destaque os modelos
computacionais.
Mesmo as
pesquisas com Inteligência Artificial (IA) privilegiam, de certo modo, a mente
em detrimento do aspecto material.
Algumas
máquinas reproduzem ações de sucesso, mas ainda assim são frutos de uma
programação, “trata-se de um modelo computacional da mente desprovido da
corporeidade evolutivamente moldada pelos fluxos e refluxos da experiência do
organismo no mundo” (p. 29)
Este movimento
acolhido por vários pensadores tem por proposta a “cognição incorporada” que
geram “robôs-guias” capazes de “prever” e “buscar soluções” para certas
situações, assim parece que a robótica começa a estreitar os laços entre corpo
e mente.
Se por um lado
se recupera o pensamento de Dewey, pois
[...] a ação inteligente
não é mais concebida apenas como o resultado de um planejamento algorítmico que
a preceda e que exerce em relação a ela um poder causal, em moldes
assemelhados, como vimos, ao suposto poder causal da res cogitas sobre a res
extensa no contexto ontológico do dualismo cartesiano. (Bronens, Andrade,
Pilan, p. 30)
No entanto este
movimento cerebrocentrísmo nos trás outras preocupações no sentido da tendência
reducionista e de desconsiderar a unidade corpórea em suas relações ambientais.
Quando se repensa
em Dewey e na indissociabilidade entre conhecimento e ação se vê limites do
projeto da explicação dada pelas Ciências Cognitivas e pelas Neurociências.
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