Atividade referente ao dia 03/10/14
– alunos ausentes
Conforme nos foi
proposto, faço aqui algumas considerações acerca da leitura do prefácio à nova
edição brasileira d’“A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um
processo perene”, de Bernard Charlot (2013).
O texto se inicia pelo
debate entre uma Pedagogia “tradicional” (educação enquanto inculcação de
regras e luta contra o corpo) versus
uma Pedagogia “nova” (educação para proteger a natureza da criança e a
dignidade social), em que ocorre a distância entre a realidade social da
criança e a escola em que ela está inserida. Percebemos, através desse debate,
que o discurso e a prática pedagógica encontram-se distanciados das
necessidades, desejos e interesses da criança e reforçam cada vez mais as desigualdades
sociais já impostas, sendo a invenção de uma “Pedagogia Social” o caminho para
a mudança.
Inúmeras vezes nos
deparamos com professores que tem tais atitudes: em nome do “construtivismo”,
de uma “aula que parte do aluno” e/ou de aulas não/ou pouco planejadas lançam
mão de práticas hostis e discursos desmerecedores dos conhecimentos trazidos
pelos estudantes, que reforçam as desigualdades sociais, culturais, econômicas e
políticas que permeiam a sala de aula. Importante destacar uma frase do texto
que nos ajuda a ilustrar essa situação: “Entre esses dois polos, porém, as
palavras ‘tradicional’ e ‘novo’ perderam muito da sua substância intelectual e
passaram a ser mais rótulos do que conceitos analíticos” (p.39).
Outro ponto a destacar do texto por sua
atualidade na realidade escolar brasileira (que inclusive eu já ouvi!), são os
discursos neurológicos e a ideia de que a informática é a “salvadora da pátria”
quando o assunto é o fracasso escolar dos alunos.
Infelizmente, os
professores estão pouco preparados para lidar com o fracasso escolar,
atribuindo-o, quase sempre, apenas ao aluno, sem considerar as condições da
escola, os materiais disponíveis, os interesses desse aluno, a globalização e
as novas demandas sociais impostas. Indo por esse caminho, consideram o
computador o instrumento chave para a melhoria dessa situação, esquecendo-se da
necessidade de preparo para lidar com a máquina, a infraestrutura necessária
para seu funcionamento, o preparo e sua manutenção. Outras vezes, também é
possível percebemos o contrário: o uso do equipamento não ocorre, pois o
laboratório está fechado, trancado à chave “para não quebrar nada”. Novamente destacamos
uma frase do texto: “Ao se considerar que o tablet
em cada mochila vai democratizar o acesso à educação, esquece-se, mais uma vez,
da dimensão social do problema e, logo, produz-se uma nova forma da
mistificação pedagógica” (p.42).
Também é possível salientar
a mistificação que toma conta da educação com as considerações acerca da lógica
neoliberal, em que “a pedagogia, ao mesmo tempo, fala de outra coisa que não a
realidade social, exprime essa realidade sob o disfarce da natureza humana e,
assim fazendo, legitima como naturais e culturais desigualdades cuja fonte é
social” (p.44). Ou seja, a educação passa a ser um serviço prestado a quem pode
pagar por ele, reforçando-se as desigualdades sociais.
Após essas
considerações, torna-se importante não perder de vista que “a educação é um
triplo processo de humanização, socialização/ingresso em uma cultura e
subjetivação/singularização. Indissociavelmente humana, social e singular”
(p.49), ou seja, que deve ser observada enquanto fator de direito do ser
humano, herdada historicamente, pertencente a uma determinada sociedade e
dotada de características subjetivas quando se volta para o sujeito. Dessa forma,
a educação deve oportunizar momentos de “formação”, “liberdade” ao sujeito e
não o contrário.
Abraços a todos/todas,
Aline M. Mantovani
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