CONVERSA COM CHARLOT – 03/10/14
Logo no início da fala de Bernard
Charlot, ele menciona que a sua primeira graduação foi Filosofia e aos vinte e
cinco anos começou a lecionar para professores, fatores que contribuíram para
que ele direcionasse suas reflexões acerca da educação considerando a questão
da desigualdade social, a do sentido, a da atividade, a do sujeito e seu
desejo.
Charlot nos propõe a refletir sobre o
conceito de ideologia redefinindo-a não tão somente como sistema de ideias mas,
na visão marxista, como sistema de ideias e homens no tempo que, ao mesmo
tempo, expressam e disfarçam a realidade. Afirma que os políticos falam de
ideias que disfarçam a realidade. Neste sentido, alerta-nos quanto à ocultação
da dimensão social nos discursos pedagógicos embasados na natureza humana tanto
da Pedagogia Tradicional quanto da Pedagogia Nova.
Na sequência da conversa, apresenta o
que ele considerou um bom exemplo de ideologia: a expressão “igualdade de
oportunidades” (mesma chance de chegar ao topo ou ficar embaixo) incorpora a
ideia de desigualdade de oportunidade porque os resultados não são iguais.
Destarte, mostra a relevância de sua pesquisa sobre a relação com o saber, na
qual se considera a realidade social e a subjetividade da pessoa. O que ocorre
dentro da sala de aula deve ser compreendido para além dos muros da escola,
deve ser analisada a relação com o saber entre o estudante e o professor,
analisar o que se tem chamado de atividades escolares ( segundo o professor
Charlot, são operações de uma atividade que se chama passar de ano) porque a
escola atua entre o motivo e o objetivo.
Nesta abordagem coloca-se crítico à
motivação porque o professor inventa alguma coisa para os alunos fazerem sem
que os alunos queiram o que, muitas vezes, leva a escola a ser vista para
acumular pontos e obter certificados. Propõe o despertar do desejo, o instigar
a curiosidade, desencadeando mobilização para estudar e aprender na escola.
Afirma que a escola não é lugar de dar respostas, mas sim elucidar perguntas
por meio de investigação e que estas não devem necessariamente serem elaboradas
pelas crianças, podem partir do professor, entretanto, devem suscitar o desejo
de investigação. Assim, o sujeito que é, ao mesmo tempo, singular e social, produz
sentidos e significados sobre si e sobre o mundo, construindo sua
singularidade.
Na explanação de Charlot, como bem
apontou o professor Mauro Betti, foi possível perceber indicações da semiótica,
muito embora o nosso convidado tenha afirmado ter pouco conhecimento a respeito
desta e, portanto, não teria condições de estabelecer paralelos. A saber: na
questão da significação (social) e do sentido (individual), constituintes da
relação entre motivo e resultado (objetivo) na qual Charlot considera relevante
a experiência de vida e atividade no plano individual para além da atividade
tida como operação para passar de ano. Do mesmo modo como o pragmatismo de Peirce condena a aprendizagem pautada
somente na terceiridade e ressalta o processo de problematização, investigação,
experiência, mediante pensamento reflexivo, produzindo dados que possibilitem o
processo de significação e ou (re)significação, mudança de conduta.
Neiva
Solange da Silva Costa
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