quinta-feira, 26 de junho de 2014

A pesquisa-ação em educação

A fim de colaborar com o entendimento da proposta da pesquisa-ação compartilho um estudo desenvolvido por Molina (2007) que objetivou fazer um mapeamento da produção da pesquisa-ação em educação no Brasil no período de 1966 a 2002, partindo da análise dos bancos de dados de teses e dissertações dos PPGE reconhecidos pela CAPES em nosso país. Para não me estender, focarei em aspectos conceituais apresentados pelo autor, bem como na importância da pesquisa-ação no ambiente escolar, a ser realizada com professores.
De acordo com o autor, a pesquisa-ação estimula a aproximação entre o pesquisador e o(s) sujeito(s) pesquisado(s), por meio da colaboração em processos investigativos desenvolvidos COM, PARA e PELOS indivíduos.
A título de exemplo, na área do trabalho infantil, autores como Alves-Mazzotti (2002), Liebel (2003), Martinez (2001), Sarmento (2005) e Woodhead (2004), buscam desenvolver suas pesquisas a partir dessa relação entre pesquisador e pesquisado, a fim de se obter aspectos da subjetividade do participante, mais condizentes com seu ponto de vista acerca do fenômeno em estudo.
Para Molina (2007), a pesquisa-ação realizada no interior das escolas, com os professores, pode desenvolver mudanças significativas no seu processo ensino-aprendizagem, partindo de uma concepção de que os professores produzem teorizações no seu contexto diário que os auxilia a superar a visão de apenas técnico, executor daquilo que outros decidem. Para ele, o professor estaria em situação privilegiada para participar de pesquisas, porque é ele que sente e conhece os problemas da escola.
A pesquisa-ação valoriza a imersão consciente no contexto observado, tanto pelo pesquisador como pelo sujeito participante, contribuindo para uma mudança na prática e atuação deste e para a observação e coleta de dados significativos para aquele, que talvez não pudessem ser obtidos com outros instrumentos e técnicas. Nas pesquisas sobre o trabalho infantil esta proposta auxilia o pesquisador a entender a subjetividade do sujeito trabalhador para além de discursos generalizantes negativos ou definições que implicam na dignidade do trabalho: é possível verificar os fatores que implicam para concepções negativas e/ou positivas suscitadas pelos participantes.
Tal proposta de atuação da pesquisa-ação também aproxima a universidade da escola. Contribui para que haja uma troca de experiências entre os saberes acadêmicos e aqueles produzidos no chão da escola: ouvir os professores e produzir conhecimentos a partir do ponto de vista dos próprios, estudando a realidade em que se encontram e contribuindo para modifica-la com a transformação de sujeitos autônomos e “criadores” do ambiente em que vivem.

Referências
ALVES-MAZZOTTI, A. J. Repensando algumas questões sobre o trabalho infanto-juvenil. Revista Brasileira de Educação, n. 19, 2002, p. 87-98.
LIEBEL, M. Working children as social subjects: the contribution of working children‘s organizations to social transformations. Childhood, n.10, 2003, p. 265-285.

Martinez, A.M. (2001). Trabajo infantil y subjetividad: uma perspectiva necesaria. In:
Estudos de Psicologia, 6 (02), UFRN, Natal.

MOLINA, R. A pesquisa-ação/investigação-ação no Brasil: mapeamento da produção (1966-2002) e os indicadores internos da pesquisa-ação colaborativa. São Paulo: FEUSP, 2007, 177 p.

SARMENTO, M. J. Trabalho Infantil em Portugal: Controvérsias e Realidades. In: VIEIRA, C. et al. Ensaios sobre o Comportamento Humano. Coimbra: Almedina, p. 95-116, 2005.

STROPASOLAS, V. L. Trabalho Infantil no campo: do problema social ao objeto sociológico. Revista Latino-Americana de Estudos do Trabalho, ano 17, nº 27, 2012, p. 249-286.

WOODHEAD, M. Combating child labor – Listen to what children say. Childhood, v.6, 1999, p.27-49.


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