segunda-feira, 16 de junho de 2014


Experiência em Educação Matemática para professores indígenas em Roraima: comentários e reflexões

Elena C. Fioretti

 A Educação se considerada como processo em que um fluxo em movimento a interconecta em seus múltiplos fatores, então a aprendizagem enquanto parte integrante e indissociada da educação seja ela qualquer e em sentido amplo é também um processo e não um produto na acepção de acabado, uma vez que promove a co-participação interagida entre um mundo físico com uma comunidade “dentro da qual se encontra o sujeito”(Merrel,2004, p.37),  dessa aprendizagem.
Floyd Merrell (2004), no texto “A prática do Pragmatismo: aprender vivendo, viver aprendendo”, discorre compreender que a aprendizagem é uma questão de interdependência, inter-relacionalidade e interatividade.  Ao levantar essa questão, Merrell destaca que a experiência deve ser pensada não como algo externo (empirismo) mas compreender que “o aspecto vital e comum da experiência humana é o processo de perceber, conceber e aprender os fenômenos”, isto é, da vivencia criamos sentido e significados internos e externos e experimentamos a realidade a partir do movimento de resignificação.
Merrel aponta que no sentido de novas experiências não somos autônomos, mas que existe um movimento, ou um fluxo em processo de totalidade interconectado e interativo, ou seja, não é possível nos dar a ilusão de que nossas generalidades são suficientes e completas como nas abordagens conservadoras apresentadas por Peirce quando se refere aos métodos da tenacidade e da autoridade.
            E Peirce em “Semiótica e Filosofia”(1972), com o intuito de discutir a Lógica enquanto método, ou apresentando como outra denominação de Semiótica, “formal doutrina dos signos”(p.93), versa sobre o papel da dúvida como motivadora do espírito para refletir a respeito de determinadas crenças. Ao definir a Lógica (Semiótica) como método científico, por abstração “somo levados a enunciados eminentemente falíveis e (...) relativamente ao que devem se os caracteres de todos os signos, empregados por uma inteligência ‘científica’, isto é, por uma inteligência capaz de aprender com base na experiência”(Peirce, 1972, p.93).
 A partir das apreensões essencialmente desses autores, sendo Merrel estudioso do pensamento de Peirce e como exercício discente, nos foi proposto pelo Professor Dr. Mauro Betti, da Disciplina “Entre os saberes docentes e os aprenderes discentes: questões teóricas e metodológicas” relatar uma experiência que pudesse ao tempo de repensar uma prática pedagógica oportunizasse refletir sobre as questões apresentadas pelos autores.
A experiência em si consiste em promover o exercício da vivencia enquanto professora da disciplina de “Etnomatemática” para alunos de três etnias indígenas que habitam em Roraima em processo de formação no Curso de Magistério promovido pela Secretaria Estadual de Educação. O curso de formação continuada para professores indígenas em exercício da atividade docente buscava a tentativa de enquadrá-los em efetiva função laboral já que atuavam como professores leigos ministrando aulas para alunos das escolas regulares instaladas nas comunidades indígenas de suas etnias respectivamente.  
Mais que um breve relato de uma singela experiência esse exercício de vivencia possibilitou repensar essa prática recorrente para indígenas professores que buscam o necessitam dessas formas de profissionalização ou de aperfeiçoamento profissional.
Ao relato então: em principio estranhei a nominação da disciplina que deveria ministrar: “Etnomatemática”. Ao observar a ementa da disciplina que me foi ofertada deparei com um conteúdo absolutamente relacionado a “Matemática” que podemos considerar ou já convencionada como “universal”e de “Etno” não havia nada. Como tratar desses conteúdos e discutir metodologias e didáticas se, em muitas situações, a linguagem, os elementos simbólicos e suas “fórmulas” não lhes diziam respeito ou sentido ou apenas aceitavam como verdadeiras mediante as imposições que o Sistema Educacional imprimem?
Como estratégia iniciei com a apresentação dos conceitos matemáticos mediante a história e seus precursores a fim de contextualizar e de promover alguma relação com o que esta definido nos conteúdos mínimos obrigatórios da disciplina e que seriam objeto de suas atividades docentes. Em contra partida, na expectativa de discutir e valorizar as diferentes formas de organizar o raciocínio lógico, considerando uma possível interatividade entre as diferentes etnias presentes, várias atividades foram sugeridas e dentre elas a apresentação de jogos e brinquedos de desafio – quebra cabeça, a partir das criações e práticas oriundas de suas comunidades. O resultado foi a elaboração, apresentação e troca entre os participantes de conjunto de peças que demonstraram algumas formas que são usadas para o desenvolvimento do raciocínio lógico pelas diferentes etnias. A expectativa foi alcançada, pois os conteúdos exigidos no curso foram desenvolvidos. Ao longo das aulas pudemos pensar no que seria uma abordagem “etnomatemática” e como os professores poderiam explorar além dos conteúdos existentes nas grades curriculares consideradas necessárias para o aprendizados dos alunos regularmente matriculados nas escolas oficiais, como aspectos da forma, organização e habilidades desenvolvidas para as situações que envolvem  cálculos, medidas, calendários, proporções, etc.   E assim pude experimentar uma situação pedagógica enriquecedora mas questionando a condição dos conteúdos das disciplinas para a Educação Indígena estavam ( e ainda estão) concentrados nos mesmos que são adotados para as escolas não indígenas.

Ao apresentar esse relato de experiência e manifestando esse questionamento acerca dos conteúdos que não são diferenciados para as diversas modalidades de educação ofertada aos distintos grupos sócio culturais, pude refletir, a partir das considerações do Professor Mauro Betti, da Disciplina “Entre os saberes docentes e os aprenderes discentes: questões teóricas e metodológicas”, sobre seu posicionamento que compreende que a necessidade da adoção dos mesmos conteúdos  para os alunos das comunidades indígenas esta também na oportunidade de esses povos se apropriarem e se apoderarem dos saberes da sociedade que via de regra impõe seu modo de vida. É uma outra forma de observar  e aprender sobre uma situação (ou fenômeno) sem que se desprenda do entendimento que a “aprendizagem é uma questão de interdependência, inter-relacionalidade e interatividade” considerando que “o aspecto vital e comum da experiência humana é o processo de perceber, conceber e aprender os fenômenos”, conforme nos ensina Floyd Merrel.

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