quinta-feira, 12 de junho de 2014


REFLEXÕES SOBRE A TEORIA DE JOHN DEWEY NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Silvana Ferreira de Souza Balsan

 

            A partir dos textos disponibilizados sobre John Dewey, achei interessante fazer uma reflexão a partir dos pressupostos teóricos estudados e uma conversa que tive com uma docente, cuja situação descrevo abaixo:
 
__ Silvana, as crianças não conseguem ler os textos, eles são muitos grandes!

__ Veja bem, muitas vezes, as crianças não conseguem ler os textos presentes no Material porque os professores trabalham sempre com textos muitos curtos, sem relação nenhuma, sem gênero específico, fragmentados, que não levam em consideração a história de leitura das crianças...

 
Quando abro o diário de preparo de aula que a professora trouxe para nossa conversa, encontro os textos que acabei de descrever no caderno dela, ou seja, é o tipo de “texto” que ela oferece aos estudantes em suas aulas de Língua Portuguesa.
  
A partir do diálogo podemos observar que a educadora oferece aos seus alunos uma variedade de atividades sem significado, que se caracterizavam pela repetição de ações mecânicas e consolidadas, ao longo da história da escola brasileira, tais como: cópias, ditados, leituras em voz alta, exercícios. Além disso, nesta concepção adotada pelos educadores há uma preocupação excessiva como o estudo do TEXTO, mas apenas com a sistematização de conhecimentos gramaticais isolados e desvinculados dos desempenhos linguísticos trazidos pelos estudantes e sem relação com situações reais de produção de textos, não leva-se em consideração os conhecimentos adquiridos pelos estudantes.

          O texto é visto pelos professores como a junção dos elementos gramaticais e lexicais, ou seja, ocorre a ênfase no ensino das relações morfológicas (substantivos, adjetivos, artigos, etc) e das relações sintáticas (sujeito/predicado) firmadas na organização linguísticas do texto. Tal situação é tão presente que os docentes, ainda lecionam a partir dos conceitos gramaticais (iniciam dando o conceito de substantivo e desenvolvem uma aula a partir desta classe gramatical), focam o ensino dos conceitos ou seja, ficam já apresentam os conhecimentos que estão na terceridade.
         Numa concepção redutora de ensino, um bom produtor de textos pode ser compreendido apenas como aquele que é capaz de organizar palavras formando frases e estas, formando parágrafos, de acordo com as normas gramaticais. Estes aspectos são realmente importantes, mas não são suficientes para expressarem a qualidade do texto produzido.
        Partindo da situação descrita fiz relações com o texto de Brons, Andrade e Pilan (2008) estudado em sala e pude repensar as práticas de ensino de Língua Portuguesa em função da concepção de fluxo contínuo da experiência, de Dewey, que segundo os autores, seria a capacidade que os seres vivos possuem de se adaptarem as variadas situações a partir da diversidade de experiências vividas, ou seja, Dewey valoriza os conhecimentos prévios que os alunos trazem.
        Assim sendo, para Dewey a educação está embasada na experiência. Neste sentido podemos dizer que seria necessário considerarmos as experiências dos alunos para que estes pudessem avançar num fluxo contínuo. Agora quando permanecemos estanques, oferecendo apenas um mesmo gênero literário para os estudantes ou os mesmos textos curtos denominados escolares, uma vez que os mesmos só existem dentro do ambiente escolar (LERNER, 2002, p. 29), como muitas vezes ocorre na escola, estamos impedindo que o discente tenha um crescimento no seu fluxo de experiência impedindo assim o seu desenvolvimento.
        Para Dewey “a medida de valor de uma experiência reside na percepção das relações ou continuidades a que ela nos conduz” (1959, p. 153). Aprendemos graças ao fluxo contínuo de experiências indissociáveis entre si nessa dinâmica de interação ativo-passiva com e do ambiente, ou seja, a experiência só terá significado se for acumulativa, se conduza a alguma coisa ou adquirir significação.
        Neste sentido podemos dizer que se a escola vem reproduzindo ao longo da vida escolar do aluno, as atividades em que os textos são curtos, sem um gênero textual definido e as atividades repetidas ao longo das séries, a formação leitora se torna ineficaz.
Outro ponto que podemos discutir a partir do texto de Brons, Andrade e Pilan (2008) é o conceito de hábito, pois muitas vezes, no ambiente escolar há um preconceito e até uma negação do desenvolvimento do “hábito” da leitura. Atualmente, o politicamente correto é desenvolver o “gosto” pela leitura.
        Entretanto partindo dos pressupostos teóricos discutidos no texto, podemos perceber que “o hábito de um organismo quando vinculado ao conhecimento se torna uma ação inteligente e atenta que, através da experiência, buscará adaptações às novas condições que lhe serão apresentadas pelo ambiente.” (Brons, Andrade e Pilan, 2008, p. 27), ou seja, o hábito se constitui mediante o pensamento reflexivo, aquele que é aplicado à resolução de situações problemáticas, o que implica o envolvimento do individuo com o ambiente social.
        Assim sendo, compete então à escola proporcionar objetivos de aprendizagem para que o educando aprenda a pensar, o que é sinônimo de aquisição de hábitos ou condutas flexíveis que o capacitem a envolver-se ativadamente com seu meio social.
Neste sentido, podemos pensar que o indivíduo deve desenvolver o hábito de leitura pois, o ato de ler deve ser uma ação que resultará num significado a partir das experiências vivenciadas pelo sujeito.

 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BROENS, Mariana Claudia. ANDRADE, Eloísa Benvenutti de. PILAN, Fernando César. A noção de fluxo contínuo da experiência: contribuições de Dewey para a ciência cognitva. COGNITIO-ESTUDOS, São Paulo, v. 05, n. 1, janeiro-junho, 2008, p. 25-32, [online]. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/cognitio/article/view/5766/4072   Acesso em: 24 Abril. 2014.

 LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

DEWEY, John. Como Pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional,1959a.

 
DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. Tradução por Godofredo Rangel, Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1959b.


DEWEY, John. Experiência e Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.

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