segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pesquisa-ação e praticismo na educação

A discussão que farei a seguir tem como base o artigo "Sobre a pesquisa-ação na educação e as armadilhas do praticismo" de Marilia Gouvea de Miranda e Anita C. Azevedo Resende (referencia ao final). Fiz uma pesquisa na base Scielo e acredito que seja pertinente a discussão neste blog.

De acordo com as autoras, a pesquisa-ação surge como uma possível solução para o grande impasse da educação: articular teoria e prática. Além disso, a pesquisa-ação visa transformação tanto de ação como de discurso.
Carr e Kemmis (apud MIRANDA e RESENDE, 2006) formularam a sua concepção de pesquisa-ação em educação e revelam que há 5 exigências que devem estar presentes:

a) rejeitar as noções positivistas de racionalidade, de objetividade e de verdade; b) admitir a possibilidade de utilizar as categorias interpretativas dos docentes; c) encontrar meios para distinguir as interpretações que estão ideologicamente distorcidas das que não estão, devendo proporcionar também alguma orientação sobre como superar os auto-entendimentos distorcidos; d) preocupar-se em identificar aspectos da ordem social existente que frustram a obtenção dos fins racionais, devendo poder oferecer explicações teóricas mediante as quais os docentes vejam como eliminar ou superar tais aspectos; e) reconhecer que a teoria educativa é prática no sentido de que a questão de sua consideração educacional seja determinada pela maneira pela qual se relaciona com a prática. (p.515)

Logo, é possível concluir que o objetivo da teoria educacional é guiar as práticas dos educadores, dando indicativos de que ações devem ser tomadas para resolver problemas, superar dificuldades. 
As autoras do artigo fazem uma aproximação entre as abordagens de Carr e Kemmis, e de Barbier e Morin para compreender melhor a pesquisa-ação atualmente, principalmente na área da educação:
  • Fazem crítica ao positivismo nas ciências sociais;
  • Recorrem a abordagens mais compreensivas para criar categorias interpretativas;
  • Vinculam pesquisa à mudança, transformação da realidade;
  • Investigam o conceito de pesquisa na ação e na prática;
  • Noção de totalidade afirmada na prática;
  • Pesquisa-ação é mais que uma abordagem, é um posicionamento diante de questões epistemológicas fundamentais (relação sujeito/objeto; teoria/prática; reforma/transformação social.
Ao discutir as armadilhas do praticismo, as autoras ressaltam que a pesquisa-ação não se trata de uma teoria contemplativa e abstrata. Não apenas compreender o mundo, mas também transformá-lo através das relações sujeito-objeto, teoria-prática.
Mas também é necessário que esta transformação da realidade não signifique a perda de mediações teóricas. 

"O suposto de que a produção do conhecimento seja orientada para subsidiar a ação pode incorrer numa noção bastante pragmática de teoria, aquela que se orienta para um fim útil, o que viria a conferir-lhe um caráter de instrumentalidade ou, no limite, a sua negação como teoria. Não é demais lembrar que teoria e prática guardam entre si uma relação de contradição: mesmo sendo sempre e necessariamente vinculada à prática, teoria não é prática, não se reduz a esta e não pode orientar-se imediatamente pelo seu interesse."  (p.515)

As autoras destacam que o praticismo pode afetar a formação inicial e continuada dos professores. O ideal de formação não pode ter como principio da ação o instrumentalismo/utilitarismo, e sim a estreita relação entre a ação e a teoria.
Aligeiramento da formação, banalização da pesquisa, descaracterização da universidade como instituição formadora de educadores, redução das condições de autonomia e rigor do exercício da crítica são alguns riscos do praticismo na educação elencados pelas autoras.
Logo, é importante estar atento ao excesso do praticismo que pode criar a falsa compreensão de que a pesquisa-ação tem como objetivo solucionar problemas isolados na escola ou na sala de aula.

Referência:
NUNES, Débora R. P.. Teoria, pesquisa e prática em Educação: a formação do professor-pesquisador. Educ. Pesqui.,  São Paulo ,  v. 34, n. 1, abr.  2008 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022008000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  30  jun.  2014.  http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022008000100007.

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