segunda-feira, 30 de junho de 2014

Semiótica e repertório cultural na literatura

Os textos que baseiam a discussão a seguir, tratam-se de uma monografia intitulada "Análise semiótica de A boneca e o saci: o livro em que o criador se tornou criatura" e o meu projeto de mestrado intitulado "Compreendendo contos e recontos: o papel das conexões com alunos de 5º ano do ensino fundamental" (ainda sendo aperfeiçoado).
Como se vê, meu projeto tem como objeto de estudo a literatura infantil, tema esse que me atrai e que, por esse motivo, me fez pesquisar a semiótica na literatura e encontrar essa monografia. Ao lê-la, encontrei pontos em comum e que gostaria de compartilhá-los aqui no blog.
 
A princípio, a monografia aplicou a semiótica de Peirce analisando a obra A boneca e o Saci de Lino  de Albergaria e de ilustração de Andréa Vilela e a compara com a biografia Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia de Carmen Lucia de Azevedo. Teve como objetivo reconhecer as tríades que correspondem à teoria pierciana na capa e contra capa  da obra, além de outros conceitos como: Análise de Discursos e Teoria Literária 
 
O efeito de contrastes encontrados na estrutura da capa do livros, para a autora, sugerem outros contrastes, nesse caso, existente entre passado e presente, e que permite dar significação à obra. Por se tratar de uma biografia, o livro atualiza alguns fatos ocorridos na vida de Lobato.
O trecho da monografia a seguir, talvez seja o que mais ilustra a relação com o meu projeto de mestrado, que, mais adiante, vou explicar o por quê.
 
"Devido à ampla divulgação da obra de Monteiro Lobato, por diversos meios, desde sua criação até os dias atuais, o conhecimento cultural que se tem do sin-signo "boneca", quando associado ao sin-signo "Saci", existente no folclore brasileiro, dota o signo a atuar como legi-signo. A boneca em questão trata-se, portanto, de uma boneca de pano, que, por convenção cultural, simboliza na cultura brasileira personagem Emília, que, por sua vez, representa o renomado autor de literatura infantil. É por esse processo que o leitor reconhece, sem nenhuma indicação da linguagem verbal e até mesmo sem, talvez, nunca ter visto uma foto do criador de Emília, a imagem masculina na ilustração da capa do livro como sendo a de Monteiro Lobato, e pode deduzir tratar-se a obra de uma biografia, atualização de um gênero consagrado" (BERDARI, 2005, p. 18)
 
A relação ocorre porque o meu projeto visa identificar o repertório cultural das crianças no que diz respeito à experiência, o contato que tiveram com os clássicos da literatura infantil e a partir de então, utilizar dos recontos para facilitar a estratégia de leitura conexão (texto-texto/ texto-leitor/ texto-mundo). Assim sendo, a citação torna-se verdadeira quando admite que é preciso que os leitores tenham esse tipo de repertório cultural, seja através da leitura, do meio televisivo ou de qualquer outro tipo de contato, para que esse signo possa atuar como legi-signo. Em outras palavras, para que os leitores sejam capazes de reconhecer a boneca de pano como a Emília é preciso que façam uma conexão, no caso texto/texto, e ainda uma segunda conexão para chegar-se ao autor Monteiro Lobato.
 
A importância do repertório cultural, bem como a capacidade de fazer conexões, confirma-se no trecho:
 
"No texto, estão presentes, além de Emília e do Saci Pererê, referências aos livros escritos, editados e publicados por Monteiro Lobato; à luta do escritor em favor da produção de ferro e petróleo no Brasil, que remete à obra O poço do Visconde; a
Dom Quixote de La Mancha, personagem de Miguel de Cervantes, do qual o próprio Lobato se apropria para escrever D. Quixote das crianças, e a outros elementos da
série. Para apresentar fatos da vida e obra do ilustre brasileiro, Lino de Albergaria instaura como narrador-personagem, em primeira pessoa, o próprio Saci Pererê, que, depois de se apresentar como "menino negrinho, que gosta de noite bem escura e de viver no mato, onde há umas plantas chamadas taquaras"[2], visita a Fazenda São José do Buquira, onde viveu o biografado. Lá, encontra-se com Emília, com quem conversa sobre o renomado escritor. É a partir do diálogo entre as duas personagens que se constrói a narrativa histórica, que apresenta também um caráter literário ficcional" (BERDARI, 2005, p. 21-22)
 
Logo, vê-se que para uma melhor compreensão é preciso que se tenha leituras anteriores.
Ao final, Berdari (2005) finaliza dizendo que "o livro fornece "pistas" de leitura que serão mais ou menos apercebidas pelo leitor, a depender do seu conhecimento de mundo" (p. 26)
 
Àqueles que se interessam pelo assunto, sugiro a leitura completa da monografia que traz além dessa citadas, outros conceitos da semiótica e a leitura do livro " A boneca e o saci: o livro em que o criador se tornou criatura".
 
Abraços,
 
ANA LAURA
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 

 
 
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.