domingo, 8 de junho de 2014

O Paradoxo da Ciência: Algumas reflexões abstraídas de J. Azanha.

        Os textos de Azanha disponibilizados nos fornecem elementos intrigantes e necessários à reflexão. Me chamou especial atenção a questão da necessidade de uma transição, uma mudança na imagem da ciência, que até hoje, é veiculada pelo ensino em todos os níveis. Segundo Azanha, esta mudança de imagem está ligada também a uma nova visão da própria história da ciência. No decorrer do texto o autor explica que a imagem que a ciência divulga como uma atividade estritamente racional esconde a sua resistência por mudanças pautadas em valores e elementos não racionais. Trás muitos outros elementos de análise que a este prólogo não cabe elucidar.  
        Este parágrafo introdutório foi escrito para servir de base para uma transposição pedagógica das ideias explicitadas, com a devida licença da minha experiência enquanto professora das séries iniciais do ensino fundamental e das humildes leituras que possuo em frente as do referido estudioso. Vou tentar realizar este movimento pensando qual é a imagem da ciência que nós pedagogos temos representado em nossas aulas e quais as consequências destas ações. Antes é preciso deixar claro que pela limitação existente em toda análise, está pode não corresponder a outras realidades diferentes das quais me apoio para dissertar. 
     O diagnóstico começa antes mesmo da formação inicial dos pedagogos atuais, começa com sua condição de aluno e da maneira histórica pela qual fomos ensinados, não precisamos delongar esta premissa pois raros são os que tiveram um ensino progressista. Vou me por como exemplo. Minha formação em ciência foi sempre de conhecimentos descobertos por grandes homens que explicam quase todas as coisas, mas eu mesma nunca entrei em um laboratório para experimentar a lógica de qualquer uma destas maravilhosas explicações. As aulas que tive foram meramente expositivas com perguntas o que é... e respostas o mais parecidas com as da professora para serem verdadeiras. A ciência da escola não é feita de questões, é feita de perguntas e encerradas com respostas. Não denunciam as vias nefastas, os desencontros históricos, muito menos as paixões insanas que longamente Bacherlard cita ao referir-se a ciência do século XVIII e início do XIX. Ensinaram-nos e continuamos ensinando uma visão a-histórica da ciência, e uma racionalidade falseada quase patriótica por ela. 
          Ao longo da formação inicial no curso de licenciatura em Pedagogia não foi diferente, duas disciplinas na grade, tão fechadas em si quanto a denominação do lugar que ocupam. De fato grades! Ao chegarmos na escola como professores do ensino fundamental somos cobrados a responder ao que pergunta, isto é aos programas de alfabetização na idade certa; aceleração; aprende brasil; e tantos outros... (que potencialmente poderíamos aproveitar para ensinar ciências, mas não o fazemos) somos burocratas do processo de ensino e aprendizagem, ficando cerca de 10 horas dentro da escola cumprindo mandamentos (isso se o professor tiver só duas cadeiras) que vem hierarquicamente das secretarias e chegam como um vômito a nós e aos alunos. Execute! essa é a palavra de ordem. As formações continuadas são um aprenda como fazer, não um por que fazer, e nem se tange questionar o que se faz. Infelizmente nossa preparação epistemológica, científica e até democrática é muito pouca para tanger uma crítica ao modelo imposto e superá-lo como cidadãos e como professores.
        Como consequência disto, para os alunos ficam os mascaramentos que fazemos mesmo sem a intenção de fazê-los, para nós o desafio constante de munirmo-nos de ferramentas científicas e didáticas para ensinar uma ciência que não é um hino a ser repetido com a mão sob o peito acriticamente, e sim um conhecimento historicamente acumulado sempre em vias de questionamento e superação. 
         

Para refletir: Bachelard (1996, p. 20) "pode-se com certeza dizer que uma cabeça bem feita é uma cabeça fechada. É um produto de escola".

           
 Thaiany Guedes
     Pedagoga

Um comentário:

  1. Thaiany, concordo com você de fato não somos convidados a participar, simplesmente a executar nas escolas públicas. Talvez tenhamos que nos preparar mais para com argumentos tecer questões e críticas que ajudem as pessoas a pensar no seu papel e na função da escola. Essa reflexão é extremamente importante porque identificamos que muitos alunos, agora até os pequenos, não querem ir para a escola. Isso sem falar nos jovens do Ensino Médio que não percebem sentido e significado na escola.

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