segunda-feira, 2 de junho de 2014

A Noção de Experiência de Dewey e a Aprendizagem Baseada em Problemas


A Noção de Experiência de Dewey e a Aprendizagem Baseada em Problemas

Sidnei de Oliveira Sousa
Teóricos educacionais como Piaget, Brunner, Ausubel e Vygotsky elaboraram teorias que fundamentam o pensamento construtivista em uma perspectiva essencialmente cognitiva, ou seja, a perspectiva desses pensadores é determinar o que ocorre internamente no indivíduo quando ele aprende. Mesmo Vygotsjy que lança um olhar sobre o papel das interações sociais para a aprendizagem, mantém seu foco no que ocorre dentro do cérebro do sujeito social para desencadear o desenvolvimento cognitivo. É necessário, portanto, observarmos como o repertório de conhecimentos adquiridos pela experiência (interior), afeta as experiências futuras (exterior), no sentido de mudança de conduta.
O PBL (Problem Based Learning – Aprendizagem Baseada em Problemas) é uma metodologia de ensino e aprendizagem que utiliza situações-problemas como ponto de partida para a aquisição de conhecimentos. É uma metodologia construtivista em sua essência, pois está centrada no aluno. Em resumo, o processo do PBL começa com a apresentação de uma situação-problema aos alunos, sem qualquer instrução prévia acerca de informações relacionadas à sua solução. A finalidade da resolução do problema é fazer com que o aluno estude determinados conteúdos. Assim, os alunos trabalham em pequenos grupos para analisar o problema e determinar quais questões se apresentam e quais informações são necessárias para solucioná-lo. Uma vez que as questões de aprendizagem são identificadas, os estudantes realizam um estudo autônomo antes de retornar ao grupo para compartilhar suas descobertas e aplicá-las na resolução do problema (MAMEDE, 2001 p. 29-30). 
Dessa maneira, sem desconsiderar o aspecto cognitivo da aprendizagem, este texto busca encarar o PBL sob uma ótica mais pragmática, ou seja, fazendo uma reflexão de como a vida interior (carga de conhecimentos gerados a partir da experiência) volta-se para o exterior como meio um plano de ação a partir da mudança de conduta (TURRISI, 2002, p. 5). A contribuição de John Dewey para a renovação do pensamento educacional representa a matriz conceitual na qual está fundamentado o PBL.  A obra Democracia e Educação de Dewey é creditada como a base intelectual para o desenvolvimento do PBL.  A teoria de Dewey, considerada como uma filosofia da experiência, ressalta como extremamente relevante a experiência para o processo de aprender (PENAFORTE, 2001, p. 59).
A teoria de Dewey abandona a noção de aprendizagem passiva, na qual a mente é um receptáculo vazio esperando ser preenchida por informações. Dewey rompe com a ideia de que os conhecimentos prévios nada significam para o que se pretende aprender. Ele descarta a aprendizagem que ocorre fora do contexto das experiências, bem como o armazenamento na memória de dados sem significado e experiências que terminam em si mesmas. Da mesma forma, desconsidera que a motivação para aprender represente uma força externa, porque ela é intrínseca ao indivíduo. Encarar a educação como aquisição de hábitos mecânicos de pensar e agir é inconcebível para Dewey. Dessa maneira, a estrutura do sistema educacional clássico é rejeitada. Em seu lugar, propõe-se uma filosofia de educação centrada na experiência. Na teoria de Dewey, a educação é a contínua reorganização e reconstrução da experiência, a busca constante de significados em um mundo precário e instável. Nesse contexto, a aprendizagem parte de problemas que abarcam inquietação, dúvida e obscuridade, para, através de um esforço ativo, trazer clareza, coerência e harmonia. Segundo Dewey, a educação centrada na experiência gera elementos que possibilitam lidar mais habilmente com condições problemáticas futuras. O ser que aprende é movido por um impulso inerente a ele próprio, que projeta seu eu sobre um ideal que é percebido como possuidor de significância pessoal. A educação, para Dewey, é sinônimo de crescimento continuado (PENAFORTE, 2001, p. 77). DEWEY (1959b, p. 108) expressa tal convicção em uma frase emblemática que se configura como a essência do PBL:
(...) o objetivo da educação é habilitar os indivíduos a continuar sua educação – ou que o objetivo ou recompensa da educação é a capacidade para um constante desenvolvimento.

Além disso, a teoria da experiência de Dewey enfatiza que nem todas as experiências são educativas. Uma experiência é educativa, quando possibilita o crescimento para experiências subsequentes, ou seja, quando atende ao critério de educação como crescimento (DEWEY, 1971, p. 14). Nesse sentido, a teoria da experiência proposta por Dewey abarca dois princípios que se articulam para que possam resultar em uma experiência educativa: o da continuidade e da interação.
1) o princípio da continuidade, ou o continuum experiencial, aplica-se sempre que houver a necessidade de discriminar entre experiências de valor educativo e aquelas sem tal valor (DEWEY, 1971, p. 23). Semelhante princípio, como critério de diferenciação entre experiências, envolve, segundo DEWEY (1971, p. 26),
(...) a formação de atitudes tanto emocionais, quanto intelectuais; envolve toda nossa sensibilidade e modos de receber e responder a todas as condições que defrontamos na vida. Desse ponto de vista, o princípio de continuidade de experiência significa que toda e qualquer experiência toma algo das experiências passadas e modifica de algum modo as experiências subsequentes.

Assim, agir como se não fizessem diferença alguma as experiências que os alunos trazem para uma situação proposta em sala de aula pode ser considerado uma violação do princípio da continuidade e, consequentemente, resultar em desastre educacional (JACKSON, 2010, p. 122).
2) O princípio da interação diz respeito às trocas que ocorrem entre nós e nosso ambiente, ou seja, enfatiza o modo como agimos sobre o mundo e como o mundo age sobre nós. Para DEWEY (1971, p. 36), há situações fora do indivíduo que são responsáveis pelo surgimento das experiências, uma vez que ocorre uma transação entre um indivíduo e o que, ao seu tempo, é o seu meio. Consequentemente, os conceitos de situação e de interação são indissociáveis um do outro.
No princípio da interação, devem-se considerar as especificidades da situação como um todo, o que inclui o material a ser trabalhado, a natureza da escola enquanto instituição, as expectativas sociais impostas pelo mundo exterior, entre outras condições objetivas (meio) (JACKSON, 2010, p. 123). Mas também devem ser consideradas as condições internas do indivíduo, ou seja, as capacidades e os propósitos daqueles que serão ensinados (DEWEY, 1971, p. 39).
Acerca dos princípios destacados, podemos situá-los tanto na escola quanto na vida, pois DEWEY (1971, p. 37) sintetiza sua teoria da seguinte forma:
Os dois princípios de continuidade e interação não se separam um do outro. Eles se interceptam e se unem. São, por assim dizer, os aspectos longitudinais e transversais da experiência. Diferentes situações sucedem umas às outras. Mas, devido ao princípio de continuidade algo é levado de uma para outra, seu mundo, seu meio ou ambiente se expande ou se contrai. Depara-se vivendo não em outro mundo mas em uma parte ou aspecto de um mesmo mundo. O que aprendeu como conhecimento ou habilitação em uma situação torna-se instrumento para compreender e lidar efetivamente com a situação que se segue. O processo continua enquanto vida e aprendizagem continuem. A unidade substancial do processo decorre do fator individual, elemento integrante da experiência. Quando esse fator se rompe, o curso da experiência com tal ruptura entra em desordem. E o mundo se divide. Um mundo dividido, um mundo cujas partes e aspectos não se justapõem, é sinal e causa de uma personalidade dividida. Quando a divisão atinge certo ponto, chamamos a pessoa insana. Uma personalidade completamente integrada, por outro lado, só existe quando as sucessivas experiências se integram umas com as outras e pode ela edificar o seu mundo como um universo de objetos em perfeito relacionamento.

Se o papel fundamental do professor no PBL é estimular o pensamento crítico e o autoaprendizado, o papel do aluno é, efetivamente, pensar e não só replicar ou memorizar informações. Nessa perspectiva, DEWEY (1959a, p. 104-105) argumenta que tal habilidade deve ser desenvolvida em um contexto propício,

Provavelmente, a causa mais freqüente pela qual a escola não consegue garantir que os alunos pensem verdadeiramente é que não se provê uma situação experimentada, de tal natureza que obrigue a pensar, exatamente como o fazem as situações extra-curriculares.

Para DEWEY (1959a, p. 14), a reflexão não pode ser encarada como uma sequência de técnicas a serem aplicadas universalmente em uma situação, mas como uma consequência, uma reação provocada por uma ação – na reflexão. Desse modo, cada ideia gera a seguinte como seu próprio efeito natural e, ao mesmo tempo, apoia-se na ideia antecessora ou a esta se refere.
Dessa forma, podemos situar o uso da metodologia PBL em sala de aula como um elemento ou sugestão de prática pedagógica que, efetivamente, coloca a teoria pragmatista em movimento, ou seja, é uma possibilidade para que, como Costa (2011, p. 26) argumenta, um conceito a ser aprendido seja a soma total das consequências práticas concebíveis. 
WEY ()day erem aplicadas universalmente em uma situaçquencia, e elaborar teoriasetapas


Referências

COSTA, Paulo H. S. O Método Pragmático de Charles S. Peirce. Revista Μετάνοια, São João del-Rei/MG, n.13, 2011. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/revistalable/2_BICALHO_O_METODO_PRAGMATICO_DE_CHARLES_S__PEIRCE__revista_met.pdf. Acesso em: 11/04/2014.

DEWEY, John. Como Pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional,1959a.

DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. Tradução por Godofredo Rangel, Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1959b.

DEWEY, John. Experiência e Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.


JACKSON, Philip W. Experiência e Educação de Dewey Revisitada. In: DEWEY, John. Experiência e Educação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2010.
 
MAMEDE, Silvia. Aprendizagem Baseada em Problemas: Características, Processos e Racionalidade. In: Mamede, Silvia; Penaforte, Júlio César (Orgs.). Aprendizagem baseada em problemas: anatomia de uma nova abordagem educacional. São Paulo: Hucitec/ESP-CE, 2001.

PENAFORTE, Júlio César. John Dewey e as raízes filosóficas da aprendizagem baseada em problemas. In MAMEDE, Silvia; PENAFORTE, Júlio César (Orgs.). Aprendizagem baseada em problemas: anatomia de uma nova abordagem educacional. São Paulo: Hucitec/ESP-CE, 2001.

TURRISI, Patrícia. O Papel do Pragmatismo de Peirce na Educação. Revista Cognitio: Revista de Filosofia, número 3, novembro de 2002. Disponível em: www.pucsp.br/pragmatismo/dowloads/btc3_turrisi.doc. Acesso em: 11/04/2014.

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