sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A condição humana em Charlot



Alessandra Fonseca Farias

Breve discussão sobre a relação da condição humana com a educação, baseada no capítulo 4 do livro de Bernard Charlot, "Da relação com o saber".

                        Charlot cita Fichte para embasar a sua ideia de que o ser humano é obrigado a aprender para ser, ou seja, não faz uso do instinto para escolher seu ofício na vida, mas sim de sua razão:

                                     Em uma palavra, todos os animais são acabados e perfeitos; o homem é apenas
                                     indicado, esboçado (...) Todo animal é o que é; somente o homem não é, na 
                                     origem, nada. Deve tornar-se o que deve ser; e porque deve ser um ser-para-si, 
                                     deve tornar-se isso por si mesmo. A natureza acabou todas as suas obras. mas 
                                     abandonou o homem e o entregou a ele próprio (...) Se o homem é um animal, 
                                     trata-se então de um animal extremamente imperfeito e por essa mesma razão não é 
                                     um animal. (FICHTE, 1976 APUD CHARLOT, 2000, p.13)

                           Assim, o ser humano se define em sua própria história, porém é ao mesmo tempo ausência e presença de si mesmo, pois é também uma presença fora de si, isso porque ele é movido por um desejo de ser o que não se é, e também pelas relações sociais, pois sua sobrevivência está ligada ao fato de haver um mundo estruturado para que nele possa se desenvolver dadas à sua prematuração. Essa ausência de si mesmo / presença em si fora de si mesmo é a condição do homem: "nascer é penetrar nessa condição humana", essa que se estabelece desde o nascimento, uma vez que "nascer significa ver-se submetido à obrigação de aprender", diz Charlot. A condição humana pressupõe um movimento, "longo, complexo e nunca acabado", no sentido de se apropriar, parcialmente, de um mundo já existente, já criado. Essa apropriação obrigatória desencadeia três processos: 1) hominização - tornar-se homem, 2) singularização - tornar-se exemplar único, e 3) socialização - tornar-se membro de uma comunidade.

                                     A educação é produção de si por si mesmo; é o processo através do qual a criança                  
                                     que nasce inacabada se constrói enquanto ser humano, social e singular. Ninguém
                                     poderá educar-me se eu não consentir, de alguma maneira, se eu não colaborar;
                                     uma educação é impossível, se o sujeito a ser educado não investe pessoalmente
                                     no processo que o educa. (CHARLOT, 2000, p. 54)

                       A Educação é tida, pois, como o ato de construir-se e ser construído pelos outros, entendida de forma ampla, em situações que ocorrem dentro e fora do âmbito escolar. É por meio de suas experiências que a criança toma contato com as muitas maneiras de aprender, e na relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo, nasce o desejo de aprender, o que propulsiona a criança em direção ao saber.


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