quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

OLHAR, OUVIR E ESCREVER...


Em “O trabalho do antropólogo” Roberto Cardoso de Oliveira apresenta sua visão sobre como um fenômeno pode ser apreendido. Para o autor mais que o antropólogo, a proposta de seu texto é atingir todos que gostam de ciências sociais.
O texto questiona as faculdades do entendimento sociocultural inerente ao conhecer das Ciências Sociais. Para o autor sem percepção e pensamento não é possível conhecer, parafraseando Leibniz.
Na sequência, Oliveira aponta três etapas necessárias para apreender fenômenos sociais. Trata-se do olhar, do ouvir e do escrever. Na visão do autor, por terem um aspecto trivial, esses elementos acabam não sendo problematizados.
Para Oliveira a percepção é construída por meio do olhar e do ouvir disciplinados. Já o escrever é responsável pela construção teórica do discurso, ou seja, o pensamento do cientista.
Sobre o olhar, Oliveira relata que o pesquisador de campo precisa domesticar teoricamente seu olhar. Esse olhar domesticado não deixaria que o pesquisador olhasse para o novo com curiosidade, mas de maneira instrumentalizada, sensibilizado pela teoria disponível.
Ao olharmos de forma domesticada, tudo o que for observado será transportado para o campo da coleta de dados, da construção de um leque de informações sobre os investigados. Pois, tal olhar permite relacionar presente e passado e verificar as transformações entre esses períodos.
Mas, para o autor somente olhar não é suficiente. Segundo Oliveira o ouvir é uma complementação do olhar. O ouvir permite ao pesquisador eliminar os ruídos insignificantes, que não tenha sentido para o corpus teórico investigado. Trata-se de uma ação que possibilita explicações para aquilo que o observado não conseguiu atribuir significado.
Para Oliveira, a entrevista é um ouvir especial, no entanto, o pesquisador precisa saber ouvir, isto é, ele tem que separar seu mundo e o mundo do investigado. O pesquisador precisa observar que sua formação se dá a partir de duas culturas, a brasileira e a de sua área de atuação, portanto diante tal conhecimento não pode ser inserido em nossa prática, cujo objetivo é compreender o mundo do investigado.
Outro fator importante é o pesquisador estabelecer uma relação de natureza entrevistador e entrevistado, mas evitando ao máximo influenciar seu entrevistado, mesmo sabendo que isso já acontece de forma involuntária, pois o entrevistado tende a se deixar levar pela posição ocupada pelo entrevistador.
Oliveira ainda relata que perguntas pontuais empobrecem a relação, pois cria interação ilusória e não dialógica. A relação dialógica promove o verdadeiro encontro etnográfico, criando uma relação partilhada entre pesquisador e investigado.
Numa relação dialógica, o mundo do observador não contamina o nativo, fator que permitirá uma interação de mão dupla (dialógica).
Por fim o ato de escrever é entendido por Oliveira como o momento do pesquisador transmitir o conhecimento adquirido por meio da percepção gerada pelo olhar e pelo ouvir. Para o autor no escrever ocorre a textualização dos fenômenos socioculturais, ou seja, a transposição para o campo do discurso.
 Rogerio do Amaral

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