quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SEMIÓTICA PEIRCIANA E EDUCAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES



O presente texto tem como objetivo demonstrar que a semiótica é uma lógica útil e imprescindível dentre os fundamentos da educação. E nesta perspectiva ressalta ser necessário entender as categorias básicas de Peirce para qualquer pensamento, que são: primeiridade, secundidade e terceiridade, associadas respectivamente a sentimento de liberdade, alteridade e existência, pensamento e generalidade.
Diante de tal propositura, a autora apresenta no artigo a definição de semiótica, a relação entre semiótica e aprendizagem, mostrando que conhecer é um fenômeno semiótico, e ainda, exemplifica situações em que processos educacionais ocorrem em semiose.
Para tanto, primeiramente a autora apresenta a contextualização (trajetória) histórica da semiótica enquanto campo do conhecimento emergente em três contextos diferentes: Rússia, Suíça e Estados Unidos, entre a segunda metade do século XIX e início do século XX. Ressalta a contribuição de manuscritos que contribuíram à legitimação da semiótica enquanto campo do conhecimento e neste sentido, destaca o trabalho de Santaella que pesquisou os manuscritos e tem publicado suas leituras sobre Peirce.
Para Silva (2008), a semiótica se contrapõe à visão da ciência moderna. De modo que a modernidade entende o homem como sujeito privilegiado do conhecimento (racionalismo e empirismo), além de conceber que o conhecimento ocorre por meio da relação sujeito x objeto, ou seja, percebe o mundo com base nos opostos. Porém, defende a ideia de que na contemporaneidade, não se pode aceitar uma explicação única, pois se constituem em relação e não possuem posicionamento fixo e rígido.
Diante de tais considerações, salienta que a semiótica propõe outra visão de mundo, que rompe com as dualidades. Entende que as relações naturais e o processo de conhecimento ocorrem por meio de relações triádicas (primeiridade, secundidade e terceiridade). Tais relações estão presentes em toda a organização do saber proposta por Peirce.
A lógica ou semiótica é também dividida em três: gramática pura (inclui os tipos de signos – de onde vem as noções de ícone, índice e símbolo), lógica crítica e metodêutica.
Para melhor compreensão de tal relação triádica a autora apresenta as características de cada um dos itens da relação triádica:
- A primeiridade  como sendo a sensação, a pura cor vermelha, uma euforia que aparece. É a categoria da liberdade, da espontaneidade, não chega a ser consciente, quando pensamos nela já estamos na secundidade. (está relacionada com o acaso, possibilidade, qualidade, originalidade, sentimento, liberdade, mônada).
- A secundidade – é a categoria do confronto, do choque com o outro, do presente sem reflexão, da surpresa. (está relacionada às ideias de dependência Ex: um esbarrão na esquina, a consciência do roçar da pele com a roupa, o detectar de uma presença. No instante em que percebe-se que a presença é de um gato, já estamos na terceiridade.
- A terceiridade – é a categoria do entendimento da reflexão, da relação, do signo completo.

Considera-se profícuo o exemplo que a autora traz acerca desta relação triadica: sinto o azul profundo – primeiridade; meu ombro toca uma parede, surpresa tátil, secundidade; penso que é azul e frio como o mar, terceiridade.
Para a autora todo e qualquer fenômeno são legitimados por esses três momentos, sendo estes os fundamentos a partir dos quais todos os conhecimentos ocorrem.
De acordo com Silva (2008), as categorias fundamentais presentes em todo processo de significação (primeiridade, secundidade e terceiridade) são os fundamentos a partir dos quais todos os conhecimentos ocorrem.
Diante de tais considerações a autora define semiótica como a ciência que estuda os signos. O processo gerador do signo é a semiose, objeto da semiótica.
O signo é algo para uma mente, a experiência primária o representamen (objeto e interpretante constituintes do signo), o objeto pode ser uma ideia, pensamento, sentimento, algo que necessita de um signo para ser expresso. Por fim, um terceiro, o interpretante, entendimento entre objeto e representamen.
Cabe ressaltar, que essa tríade se movimenta não é estática, e que a semiótica constitui-se no estudo da semiose, do processo de atuação e funcionamento dos signos.
Com base nesses pressupostos a autora apresenta a relação entre a semiótica e aprendizagem. Assim destaca que todo aprendizado ocorre por meio de signos, sendo o processo comunicativo fundamental à cognição e, por consequência, à aprendizagem. Afirma a autora que estamos no mundo nos comunicando e aprendendo o tempo todo. Mas é importante destacar que para que haja essa interação é preciso que haja afeto. O afeto conecta-se à primeiridade, categoria fundamental de todo processo semiótico.
Na sala de aula toda vez que ocorre comunicação, ocorre aprendizado, conforme o capital disponível de cada um (conhecimentos prévios) e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo.
Para Silva (2008), o aprendizado, nesta perspectiva, precisa de um objeto ou conteúdo, de uma mente com seu capital de signos, o que propiciará um resultado, um caminho. Dessa forma, a semiose é um fenômeno contínuo, no qual a ação do signo se desenvolve no tempo e a vida se desenvolve por meio de signos.
É importante enfatizar que nesse contexto percepção e conhecimentos não se separam e que a certeza é sempre provisória, está sempre em movimento e é coletiva.
Segundo Silva (2008), todo conhecimento é interpretativo, condicionado pelo que existia antes e revelado em momento posterior, de acordo com o tempo. Para Peirce apud Silva (2008) o pensamento não está em nós, nós estamos em pensamento, o que mostra que não reagimos mecanicamente às situações, de forma sempre igual, pois estamos sempre em movimento, criando novos signos, ou seja, aprendendo.
Apresentado tais premissas a autora exemplifica situações semióticas e educacionais, e ainda nos remete ao papel do aluno e do professor neste contexto.
No que diz respeito ao papel do aluno, enfatiza que o aluno tem que estar disposto a se afetar pelo aprendizado, deve disponibilizar sua mente, sua atenção, seus sentidos procurando interagir com o mundo a sua volta.
Ao professor cabe entender que os alunos aprendem de acordo com os conteúdos prévios que possuem. E neste sentido, cabe ao professor avaliar em que nível deve propor uma situação de ensino, de modo a contemplar o equilíbrio necessário. Assim, não deve utilizar vocabulário nem tão acessível, nem tão difícil; deve propor textos desafiadores ao capital sígnico do aluno, sendo este um dos grandes desafios do professor, ou seja, propiciar situações motivadoras e dinamizadoras de aprendizagem e com isso conseguir afetar os alunos, atingir resultados satisfatórios e a meta proposta.
Cabe ao professor atuar como signo que intermedeia os objetos do mundo ao aluno, onde ambos produzem conhecimento nesse processo semiótico. Além desse desafio, a autora chama a atenção para outro desafio contemporâneo a quem trabalha com educação, as mídias e multimeios da comunicação que permite a junção de diversas linguagens.
Ao se reportar ao cruzamento dessas diversas linguagens sugere, a autora, a necessidade de aproveitar espaços como a rede de computadores por meio de projetos que conciliem seu potencial comunicativo com a experiência educativa existente. Ficando claro assim, o caráter incessante e dialógico da linguagem, que conecta mentes, constrói mundos, comunica, produz aprendizado.

Referencial Teórico
SILVA, A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação. Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 11, n.3, p.259-267, set-dez. 2008.


Discente: Doutoranda Daniela Miranda Fernandes Santos

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