sábado, 15 de dezembro de 2012

Cultura escolar brasileira - um programa de pesquisa: uma breve introdução


Cultura escolar brasileira - um programa de pesquisa: uma breve introdução

 Azanha (1992) reporta-se neste texto à necessidade de um mapeamento cultural da escola de modo a propiciar aos docentes da FE-USP elementos para discutirem a integração da instituição no âmbito das oportunidades de intercambio acadêmico criadas pelo acordo BID-USP.
Tal necessidade emana da crise atual da educação brasileira visível até mesmo para o leigo. Visibilidade que segundo o estudioso acaba sendo um fator de obscurecimento quando se pretende compreender em profundidade as suas raízes e as perspectivas de sua superação.
Para Azanha (1992) a obviedade de tal crise gera análises estereotipadas e apressadas soluções que pouco tem contribuído para a superação de tal mazela.
Segundo o mesmo autor, tal crise faz parte da conjuntura mundial e no caso brasileiro ela é inegavelmente política. Sendo assim caracterizada tem sido encaminhada por meio de discussões coletivas em assembléias e conselhos não apenas de educadores e pais, mas até mesmo de alunos, o que tem descaracterizado a situação pedagógica. De modo que não requer nenhuma qualificação profissional para a sua condução, o que de certa forma contribui para a desvalorização da formação docente.
Nesta perspectiva, o autor faz uma crítica à participação da comunidade na discussão de tal crise, uma vez que a escola não é de modo algum o mundo e não deve fingir sê-lo; ela é a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo, sendo a possibilidade de transição da família para o mundo. Não se deve fundir o mundo da escola e o mundo do lar, por serem instituições diferentes e indispensáveis, na sua diferenciação, para o desenvolvimento da criança.
Para Azanha (1992) “[...] integrar esses mundos diferentes pode, eventualmente, representar a sonegação de importantes oportunidades educativas às crianças e aos jovens, que poderiam encontrar na escola um espaço socialmente diferente daquele propiciado no contexto familiar”. (p. 70).
Esse seria um exemplo de que a banalidade da crise escolar tem um forte poder de banalização de nossas respostas a essa crise.
Diante de tal premissa, o autor ressalta que o simples reconhecimento da existência de uma crise na instituição escola deveria suscitar reflexões sobre a escola antes de dispensarmos esforços a reformá-la. Ou seja, precisamos rever nossas ideias sobre a escola, procurarmos entendê-la, para depois se pensar em possibilidades de mudanças e reformas.
A forma como a escola tem sido abordada, segundo ele, tem gerado apenas contabilidades pedagógicas que tão pouco serve para produzir estatísticas escolares. E nesse tipo de contabilidade, o aluno, o professor e outros componentes do ambiente escolar são falsos objetos, e com isso, mascara-se o fundamental que é o jogo das complexas relações sociais que ocorrem no processo institucional da educação.
Segundo Azanha (1992) o que interessa é descrever as “práticas escolares” e os seus correlatos, ao invés dos resultados escolares como reprovação e a evasão, o que permitirá visualizar as profundas raízes dessa crise em determinadas condições sociais e culturais. Porém, isso só seria possível por meio de um amplo conjunto de investigações capazes de cobrir o amplo espectro das manifestações culturais que ocorrem no ambiente escolar e que se objetivam em determinadas práticas. Do conjunto desses estudos constituir-se-ia um mapeamento cultural da escola, o que poderia possibilitar a chegar a hipóteses interessantes sobre a crise educacional em sua dimensão histórico-social.
Diante de tais apontamentos, o autor sugere o desenvolvimento de projetos que localizem pontos interessantes a serem estrategicamente estudados, de modo a envolver os pesquisadores num amplo programa de investigação capaz de contribuir para um conhecimento da cultura escolar.

Referencial Teórico
AZANHA, J.M.P. Uma idéia de pesquisa educacional. São Paulo: Editora da USP, 1992. (p.67-75).

Discente: Doutoranda Daniela Miranda Fernandes Santos

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