terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O ACHADO...

O achado valioso e olhar clínico que o enxerga


Azanha (1992) traz em sua obra o conceito de “Serendipity”, ele recorre a Merton que considera como uma descoberta de um dado valioso na investigação de forma imprevista, anômala e estratégica.
O autor utiliza como exemplo a descoberta do agente transmissor do Tifo feita por Charles Nicolle durante a epidemia na região de Tunis. Em 1909, Nicolle e outros médicos perceberam que a partir da entrada dos tifosos no hospital não havia transmissão da doença causada pela bactéria Rickettsia prowazekii, nesse sentido, o elemento transmissor possivelmente era eliminado a partir da entrada do tifoso nas dependências hospitalares. Certa vez, Charlles Nicolle ao desviar de um tifoso caído na porta do hospital entende que o agente transmissor seria o piolho, já que em sua entrada os doentes são lavados, barbeados e tosados.
Essa descoberta é casual, contudo, foi determinada pela presença de outros fatores não casuais. Havia uma preocupação, uma busca anunciada. E quem desvendou o segredo não foi qualquer pessoa, mas um médico que tinha domínio sobre o assunto, um olhar clínico que não permitiu que o encontro casual com o tifoso fosse um simples momento, mas sim, um achado valioso. Se outro sujeito tivesse vivido a mesma experiência, certamente não haveria a descoberta. O casual é como um sinal, e os sinais estão a nossa volta, nem todos conseguem fazer a devida interpretação, somente os que estão mergulhados no conhecimento que dá sentido aos fatores dispersos.
Muitos dos importantes achados da ciência foram resultados de experiências casuais, em que um determinado fator não previsto representou a chave para o desfecho de uma indagação científica.
Podemos entender que grande parte das angústias surgidas durante uma investigação, residem sobre o problema da falta de mergulho, de não estar encharcado dos saberes que dão sustento para que o principal seja enxergado e o não representativo seja descartado.
Por mais simples que pareçam determinadas descobertas, a conclusão final somente foi possível depois de um processo de indagações e experimentos que foram construindo um olhar mais aguçado, mais clínico, para examinar até o mais casual e saber prová-lo a comunidade científica.
Portanto, seremos muito mais eficientes em nossas investigações se realmente focarmos em nossa situação problema e buscarmos o respaldo concreto que dará direção ao percurso. Não saberemos apresentar o novo sem antes construirmos um novo olhar que não seja limitado o bastante para enxergar somente o óbvio, mas se encontre capaz de trazer das profundezas do fenômeno um elemento ainda não explorado e apresentá-lo na superfície que o anseia como um achado valioso. 

                                                                                                      Tony Moreira

Referência: AZANHA, J. M. P. Uma idéia de pesquisa educacional. São Paulo: USP, 1992.

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