sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A PESQUISA-AÇÃO DE GOMES-DA-SILVA NA PERSPECTIVA SEMIÓTICA PEIRCIANA

Um dos pontos altos de nossas aulas, eu diria, foi a presença da doutoranda Eliane Gomes da Silva. A princípio, compreender a teoria de Peirce parecia impossível para mim. Na verdade, tanto a sua fala como a sua escrita permitiram-me uma melhor compreensão.
Talvez fosse porque um dos enfoques de sua pesquisa seja a Educação Infantil, fato interessante é que Gomes-da-Silva não somente conseguiu atrelar teoria/prática, como também se embasou numa perspectiva semiótica peirciana.
Gostaria de compartilhar algumas informações trazidas por esta pesquisadora. Em seu texto, ratifica o currículo e os objetivos de ensino como hipotéticos; a educação como processo sem meta final; a dúvida como geradora da investigação e do ensino; o conhecimento que deve ser discutível para que possa ser comprovado; a rejeição da autoridade, da tradição e da opinião admitida na busca do conhecimento; a investigação como apreensão da experiência; o empreendimento científico como empreendimento público, crítico e auto-crítico; o entendimento de que as generalizações devem ser testadas em casos individuais e a investigação que deve gerar implicações para a prática futura. Antes, comenta das investigações na educação e não sobre a educação como dentre os pontos convergentes com a leitura do pensamento de Peirce e de Stenhouse (Os grifos da autora foram mantidos).
De uma maneira muito didática Gomes-da-Silva explanou conceitos relevantes de sua tese, como por exemplo, que descobrimos as coisas no contato com o outro, o qual nos tira do conforto, trazendo-nos dúvidas. Sabe-se que este “outro” não se refere apenas a pessoas. Salientou que embora a crise seja dolorida, é necessária. Na crise não há reflexão, há suspensão. Enfrentamos a crise pelo desejo, sem este não há mudança, mas somente ele também não basta. A crise é importante no relacionamento e não damos conta de lidar com ela sozinho. Deixar que o outro se mostre é aprender, sendo a experiência a nossa única mestra.
Outro fato interessante, é que, paradoxalmente, “a possibilidade não é nada, mas também é tudo”. Não conseguimos possibilidade por meio de nossas crenças e complementou dizendo que para mudar hábitos enfrentamos nossas próprias crises. Definiu cada categoria do signo triádico em uma única palavra, isto é, Primeiridade = dúvida; Secundidade = crença e Terceiridade = reflexão.
Gomes-da-Silva orienta que temos que ter disponibilidade para modificar, sempre que necessário, o modo como “miramos o fenômeno”, segundo Marcel Proust “[...] ter novos olhares”. Isto implica no exercício da renúncia o nosso primeiro compromisso investigativo. Valendo-se que investigar é significar!
Para a autora, tendo como tese o enfoque à Educação Infantil, “É preciso renunciar à posição adultocentrada da qual olhamos as crianças, enxergando-as como incapazes, marginalizadas e sem pontos de vista próprios”. A pesquisadora relatou que tanto os professores quanto as crianças envolvidas em sua tese também foram investigadores, na condição de investigadores do processo de ensino e de aprendizagem, sendo eles próprios responsáveis por dar sentido às suas experiências.  “Na perspectiva peirciana, experienciar uma prática pedagógica é, para professor e crianças, investigar, descobrir, modificar condutas, e, portanto, aprender” (GOMES-DA-SILVA, 2012).
Concordo quando a autora afirma que há muitos professores de Educação Infantil que estagnaram nas suas concepções de educação, mundo e criança, fechando-se para as possibilidades de estabelecer novas relações interpretantes, as quais são indispensáveis para modificar sua prática pedagógica e, consequentemente, sua própria vida. Realmente precisamos valorizar a necessidade da repetição de ações potencialmente passíveis de despertar novas condutas/mudanças nos hábitos de um fazer pedagógico. Enfim, trata-se de uma tarefa árdua que requer disponibilidade e interesse para ser bem sucedida.
Segundo Peirce (1972), o método científico introduz a concepção de realidade, independente de nossas opiniões. O estudioso afirma que “a essência da verdade reside em sua resistência em ser negada”. Tal método é contrastado com outros métodos de fixar crenças. Esses esclarecimentos identificados por Peirce são relevantes para que, como salienta Gomes-da-Silva, não incorramos em hostilidades interpretativas caso um professor não queira conosco compartilhar a investigação que iremos propor-lhe acerca do fenômeno/objeto do seu fazer pedagógico, por força de seus hábitos. Muitos professores se sentem confortáveis em suas crenças, não estando disponíveis para colocá-las em dúvida.
Uma pesquisa-ação, como por exemplo esta de Gomes-da-Silva,  pode ter objetivo voltado para a produção de conhecimento que não seja útil apenas para a coletividade considerada na investigação local, mas suscetível de generalizações parciais no âmbito educacional. Este trabalho envolveu uma intervenção pedagógica, mantendo um acompanhamento da ação, diálogo e análise sistemática dos dados.
Particularmente, o que considerei mais interessante desta pesquisa foi a opção por exercitar a escuta das crianças no contato com as professoras. Concordo plenamente com a autora-pesquisadora quando diz que a criança tem direito a vez e voz, portanto, elas podem ensinar a nós adultos a investigar e descobrir o que o espaço vivo da Educação Infantil tem a nos dizer.




Roberta Caetano da Silveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.