sábado, 12 de janeiro de 2013

A pesquisa ação como aproximação de ensino e pesquisa.

PELEGRINI, Sônia Maria

A partir das três disciplinas da pós-graduação deste ano:  Delineamento Metodológico, Seminários de Pesquisa e Entre Saberes Docentes e os Aprenderes Discentes: questões teóricas e metodológicas, pude perceber a aproximação entre a pesquisa-ação, o ensino e a pesquisa, (um dos conteúdos desta disciplina) e, como as ações educativas e concepções de ensino e aprendizagem, da minha trajetória de vida acadêmica tem relação, agora com maior fundamento,  com os pressupostos desta. O nosso projeto de pesquisa cujo objetivo é investigar e promover a construção de saberes sobre a ludicidade no curriculo da Educação Integral no Ensino Fundamental I, estará usando como procedimento metodológico a pesquisa ação, por considerar que a contribuição para a resignificação das ações educativas cotidianas está intrinsecamente ligada a forma de intervenção da pesquisa.
Considerando a necessidade de romper paradigmas e superar a dicotomia, entre “os que pesquisam” e  “os que aplicam a pesquisa” ,  e de, construir posturas que propiciem a construção coletiva de saberes, atitudes de participação e co-autoria; a pesquisa-ação pode ser a metodologia mais adequada para promover transformações necessárias a prática educativa no chão da escola, bem como, promover transformações sobre o modo como a universidade se relaciona e contribui com a construção de saberes na/da escola. Segundo Barbier (2007) A pesquisa-ação é a revolta contra a separação entre fatos e valores..... é um protesto contra a separação de pesquisa e ação.
Para Franco (2012)
...o sujeito participante da pesquisa-ação começa a se sentir e a se perceber protagonista de processos de transformação e autotransformação. No entanto, será preciso que desconstrua saberes que nada mais siginficam, construindo percepções favoráveis em relação à sua identidade profissional. Como resultado, conseguirá valorizar e expressar seus saberes da experiência e vinculá-los ao coletivo, socializá-los, referendá-los com novos pressupostos de mudança ( 2012. p. 7).

A pesquisa-ação, conforme afirma Pimenta (2005), tem por pressuposto que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns, interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam, desempenhando papéis diversos: pesquisadores universitários e pesquisadores professores. Constatado o problema, o papel do pesquisador universitário consiste em ajudar o grupo a problematizá-lo, ou seja, situá-lo em um contexto teórico mais amplo e, assim, possibilitar a ampliação da consciência dos envolvidos, com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos sujeitos e das práticas institucionais.
A importância da pesquisa na formação de professores, acontece no movimento que compreende os docentes como sujeitos que podem construir conhecimentos sobre o ensinar, na reflexão crítica sobre sua atividade, na dimensão coletiva e contextualizada institucional e historicamente. Nessa direção, encontram-se pesquisas denominadas de colaborativa, realizadas na relação entre pesquisadores-professores da universidade e professores-pesquisadores nas escolas, utilizando como metodologia a pesquisa- ação.
Para Barbier (2007. p.118), quatro temáticas centrais devem ser examinadas quando se fala do método da pesquisa-ação: A identificação do problema e a contratualização; O planejamento e a realização em espiral; As técnicas de pesquisa-ação;  A teorização, a avaliação e a publicação dos resultados.
 A identificação do problema e a contratualização é a primeira etapa da pesquisa que, no nosso caso, consistirá em conversar com os  diretores das 26 escolas municipais que trabalham com Educação Integral e convidar para a participação, àqueles cujos professores aceitarem a pesquisa. Será apresentado/esclarecido os objetivos da pesquisa e a metodologia a ser trabalhada, para que os gestores e professores sintam-se convidados a participarem da pesquisa e após o aceite, o grupo passa a discutir uma contratualização para a efetivação do trabalho.
O planejamento e a realização em espiral pode ser considerado a segunda etapa da pesquisa que, consiste em organizar com os participantes o planejamento que dê conta de refletir sobre àquela realidade e, ainda, de acordo com Franco (2005. p. 22), o método deve comtemplar o exercício contínuo de espirais ciclicas: planejamento → ação → reflexão → pesquisa → ressignificação → replanejamento → ações cada vez mais ajustadas às necessidades coletivas → reflexões → aprofundamento da pesquisa → ressignificação → replanejamento → novas ações →.... Esta ação é contínua e perpassa todos os momentos da pesquisa, para que possa produzir conhecimentos e transformções das ações iniciais.
Podemos indicar a terceira etapa da pesquisa como as técnicas de pesquisa-ação. No nosso caso, será indicado algumas técnicas que poderão sofrer modificações de acordo com o resultado dos encaminhamentos dos sujeitos, pois na pesquisa-ação elas também são discutidas e aprovadas pelos participantes. A entrevista, o levantamento de dados estatisticos e outras técnicas mais quantitativas que qualitativas, também serão usados, se necessário e contratuado com os participantes.
Barbier (2007.p.127-127) sugere as técnicas de observação participante e considera que para a pesquisa-ação as mais apropriadas são: a Observação Participante Ativa- OPA e Observação Participante Completa- OPC, e ainda a técnica do diário de itinerância e gravações. Franco (2012. p. 17) sugere em sua pesquisa, o que chama de dispositivo de formação sendo: autoscopia  (fimagem da aula), escuta sensível, grupos de encontro, memoriais vivenciais, registros coletivos da prática, grupo focal, dentre outos.
A quarta etapa da pesquisa é a teorização, a avaliação e a publicação dos resultados. Para Barbier (2007. p. 143-144),
Numa pesquisa-ação a teoria decorre da avaliação permanente da ação. Encontra-se o seguinte processo de pesquisa em espiral: situação problemática; planejamento e ação n. 1;  avaliação e teorização;  retroação sobre o problema; planejamento e ação n. 2; avaliação e teorização; retroação sobre o problema; planejamento e ação n. 3; avaliação e teorização; retroação sobre o problema; planejamento e ação n. 4; e assim sucessivamente.

A produção de relatórios parciais serão redigidos na medida em que os participantes produzirem elementos com as reflexões em espiral. Os artigos/textos serão publicados na medida em que os participantes sentirem  necessidade de socializar os conhecimentos produzidos. Para Barbier (2007,p.145) a publicação parece ser necessária numa pesquisa-ação porque suscita problemas essenciais.
Segundo Franco (2012), a verdadeira pesquisa-ação começa após a reunião dos dados, é um trabalho mental e os sujeitos devem conversar sobre os dados da pesquisa, pois ela se consolida com a tessitura da construção do conhecimento que é  interpretado e partilhado entre os sujeitos. O conhecimento emerge da dialética do processo  e não do produto. A autora propõe no mínimo dois (2) instrumentos para a pesquisa e ao chegar nas categorias, preferencialmente coletiva, deve-se triangular, emergir o “3 D”, dar densidade, colocando os sujeitos da experiência e os teóricos. A forma como cada um arranja a triangulação entre conhecimento/sujeitos/teorias e tenciona os dados,  buscando as contradições entre estes elementos/dados/sujeitos, é que dará a tessitura do texto. Assim os dados da pesquisa devrá estar disponível aos sujeitos participantes que poderão também produzir suas escritas.
É inegável a aproximação da pesquisa-ação com o ensino e com a pesquisa, uma vez que esta parte do pressuposto da participação efetiva de todos os participantes do processo e de ações reflexivas e ciclicas, produzindo novos significados e consequentemente ações repensadas e resignificadas. A pesquisa-ação é uma metodologia que possibilita concomitantemente aprender, ensinar, pesquisar, descobrir, resignificar, repensar, refletir, construir saberes, transformar práticas, reconstruir saberes.

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie Didio. Brasília: Liber Livro Editora, 2007.
FRANCO, Maria Amélia Santoro. A Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa. Revista da Faculdade de educação da USP. Vol. 31, fascículo 3. Dez 2005. São Paulo 2005. ISSN: 15179702.
FRANCO, Maria Amélia Santoro. A pesquisa ação na prática pedagógica: balizando princípios metodológicos. (No prelo). 2012.
PIMENTA, S.G.(USP) Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiência com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n.3, p. 521-539, set./dez. 2005.

 

 

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