sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Pragmaticismo, conhecimento empírico e apreciação estética


                Durante o semestre letivo houve, de minha parte, maior mobilização para a leitura mais ávida de alguns autores, uma vez que suas temáticas transitavam mais proximamente ao foco de minha pesquisa de Doutorado. E isto se deu justamente em um momento que o idioma francês passou a ocupar um espaço importante na minha vida. Como recentemente havia ampliado minha biblioteca, graças aos livros da Luciana Venâncio, a parte francesa do nosso acervo foi “aumentada”. Bem, encontrei a tradução francesa de um livro de John Dewey que me atraiu bastante, e que fez pensar sobre uma decisão que tomei há tempos, quando desisti de tentar “ganhar a vida” como artista, ou seja, quando desisti de “viver de arte” logo na primeira metade da década de 1990. E, ao fazer isso, repensei o lugar que ocupa atualmente a apreciação estética em meu trabalho de docência e de pesquisa com a Educação Física.
                O livro escolhido é L’art comme expérience (Paris, Gallimard, 2005) e nele há alguns excertos que me fazem pensar acerca da apreciação estética face ao pragmaticismo peirceano e ao conhecimento empírico, que, para o autor, é o conhecimento que consiste justamente na “base” para tal apreciação. Como premissa, portanto, poder-se-ia afirmar que não há apreciação estética sem conhecimento empírico ou, em outros termos, não se aprecia a “arte” ou não se aprecia a significação artística e estética de uma “obra” sem que se tenha alguma experiência própria que sirva de base para a apreciação. E essa experiência precisa ter alguma relação com a obra, i.e., a obra precisa “dizer alguma coisa que seja compreensível ou sensível”.
                Pois bem, conforme a argumentação de Dewey, seria equivocado concluir que Peirce, como fundador do pragmaticismo, considerava a dimensão estética como sem importância, e que não contribuiu em nada para a compreensão e crítica da arte. Ao contrário, ele possibilitou, com sua perspectiva semiótica, uma teoria de símbolos e interpretações progressivas que têm enriquecido a estética. Isto porque ele apreciou o papel do “jogo” no pensamento e na expressão criativa. Peirce estava tentando “entrar no jogo” através de um conceito estranho que ele chamou de musement (pág.12).
Peirce também fez da experiência imediatamente sensível uma qualidade (tão importante para a estética) como consciência de primeira classe: "primeiridade". Ele enfatizou a continuidade e a colaboração da ética e da estética, até para "colocar a ética na dependência da estética, e tratar o que é moralmente bom [... ] como uma espécie peculiar do que é esteticamente bom. Desse modo, se “a ética é a ciência do método para alcançar o controle de si mesmo", a fim de conseguir o que queremos, cabe-nos “desejar [...] e fazer a [nossa ] vida bela e admirável”. E isto implica que a “ciência do admirável” seja justamente a estética (pág.12).
De acordo com Dewey, ao explicar o que é “viver uma experiência”, cabe considerar que (...) a produção de uma obra de arte genuína provavelmente exige mais inteligência do que o pensamento alegado que parece estar entre aqueles que se orgulham de ser "intelectuais" (pág.97). Por “obra genuína” cabe considerar que seja algo original, criativo, algo elaborado e significado como um tipo de “resultado vivido”.
Em suma, a preocupação de Dewey é com a educação do “homem comum”. E é nesse sentido que ele desenvolve uma visão da arte em uma sociedade democrática, que nos liberaria dos mitos e de qualquer intimidação, pois que estes são fatores que dificultam a experiência artística. 
Assim, a democracia é mais central no pensamento filosófico de Dewey que no de Peirce. Dewey estendeu as consequências dos princípios pragmáticos – e em particular a do inquérito – à filosofia política: para ele a democracia é, portanto, livre de qualquer subordinação filosófica ou institucional. "A democracia não é uma forma de governo", ele gostava de repetir. Ela não é caracterizada por uma figura histórica de poder, dotada de algum predicado especialmente ideológico, filosófico ou institucional. Em vez disso, ela é investida com significado normativo: existe como “padrão próprio” e define sua “própria norma”, na medida em que ela própria define as condições de interlocução imanente à discussão pragmática, racional e, consequentemente, ao inquérito como forma elaborada e socializada da experiência.
Ora, cabe concluir que o inquérito é uma forma peculiar, uma técnica ou um dispositivo de sondagem com sentido pragmático (que pode sustentar os processos abdutivos), que serve como meio para se ter acesso de alguma maneira à experiência própria (introspecção sistemática, autocrítica) ou a de outrem, ou seja, o inquérito é um modo de pesquisar uma dada experiência.

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