quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Charlot e a crítica a teoria da reprodução



A idéia de que alunos de classes dominantes alcançam sucesso na escola e que alunos das classes populares tendem ao fracasso escolar foi por muito tempo aceita pelos pesquisadores. Inegavelmente, há uma relação estatística entre origem social do aluno e sucesso ou fracasso escolar.
A obra de Bordieu é um importante referencial nesse assunto, pois para o autor a cultura escolar se baseia na cultura da classe dominante, e aqueles alunos que já chegam na escola familiarizados com essa cultura tendem ao sucesso escolar. Para ele, os alunos de classes populares que alcançam sucesso escolar são uma exceção, devido a características individuais.
Bordieu chama de violência simbólica a imposição que a escola exerce sobre os alunos das classes populares (como por exemplo, a linguagem valorizada e considerada legítima na escola) e afirma que a escola não é um ambiente neutro de oferta de oportunidades, mas uma instância de reprodução e legitimação da cultura da classe dominante – daí a tendência ao sucesso escolar dos alunos oriundos dessa classe social, tal como o fracasso dos outros.
Por outro lado, Charlot critica a chamada “teoria da reprodução” pois não leva em conta as práticas de ensino na sala de aula e as políticas específicas dos estabelecimentos escolares.  Para este autor a relação classe social/sucesso/fracasso escolar não é direta.
Charlot propõe então a análise do fenômeno sucesso ou fracasso escolar via relação com o saber, considerando o aluno um sujeito-aprendiz que se constrói também por sua singular apropriação do mundo, não como resultado passivo das influências do ambiente. Para o autor, é a partir das relações diferenciadas com a escola e com o saber que se constroem histórias de sucesso ou fracasso  escolar.
O autor afirma ainda que o sujeito não tem uma relação com o saber, ele é sua relação com o saber, e apresenta três categorias de relação como saber: 1) o saber é percebido como um objeto; 2) o saber é visto como saber-fazer; e 3) o saber é visto como saber relacionar-se (com o mundo ou consigo mesmo).
Essas relações levam tempo, implicam em atividades práticas e exigem mobilização do sujeito. Charlot dá importância a idéia da mobilização, movimento interno do sujeito, e para que isso aconteça, a atividade deve ter um sentido, relacionar-se com outras coisas que o sujeito já encontrou no mundo.
Portanto, para que o aluno se aproprie do saber escolar sua classe social não deve necessariamente ser a dominante. Para que o aluno se aproprie do saber escolar ele deve estar mobilizado em relação à escola, e para que essa mobilização ocorra a aprendizagem deve fazer sentido para ele.  


Ana Cristina da Silva Ambrosio

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