sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

TURRISI, P. O papel do pragmatismo de Peirce na educação. Cognitio-Estudos: Revista de Filosofia, São Paulo, n. 3, nov 2002.



Por Claudinei Chelles

 

Partindo de um referencial Peirceano, Turissi apresenta sugestões na direção de uma educação pragmatista, considerando os modelos de instrução direta e o construtivismo. A autora busca disponibilizar aos professores instrumentos por meio do pragmatismo para o ensino mais eficiente. Assim, a proposta do texto é interrogar dois distintos extremos filosóficos de ensinar, e compará-los com a prática de ensino que o pragmatismo de Peirce sugere. No primeiro momento demonstra como Peirce interpreta a “instrução direta” e o “construtivismo” por meio do aspecto do pragmatismo. No segundo momento é uma proposta de como a educação de nível superior pode apoiar-se no pragmatismo, bem como de uma avaliação sobre este contorno de intervenção.
Na primeira parte, referente à Instrução Direta, mencionando uma breve genealogia crítica, Turissi cita que John Dewey (1897, 1926) estabeleceu uma fundação para o construtivismo e consequentemente ultrapassa o “método tradicional”[1] de ensino, já que suas ideias afirmam que a vida social não era apenas idêntica à comunicação, mas toda comunicação (e, portanto toda vida social genuína) era educativa. (...) Toda comunicação é como a arte. Pode-se com justiça afirmar, portanto, que qualquer arranjo que se mantenha vitalmente social, ou vitalmente compartilhado, é educativo para aqueles que dele participam. Apenas quando ele se torna engessado num molde e passa a funcionar de uma maneira rotineira, ele perde seu poder educativo. No final, portanto, não apenas a vida social requer ensino e aprendizado para sua própria conservação, mas o próprio processo de viver junto educa. Ele amplia e ilumina a experiência; ele estimula e enriquece a imaginação; ele cria responsabilidade pela precisão e vivacidade da fala e do pensamento. Um homem vivendo realmente sozinho (sozinho tanto mental quanto fisicamente) teria pouca ou nenhuma oportunidade de refletir sobre sua experiência passada para dela extrair sua rede de significados.
Para a autora, na educação a “instrução direta” é uma forma contemporânea, ainda presente nos métodos de ensino de escolas elementares, já que no ensino superior sua presença ocorre pela presença do “método da aula expositiva”. A “instrução direta”, fundada na década de 1960, nos Estados Unidos, sendo tradicional no processo de ensino-aprendizagem tendo como interação os scripts de perguntas e respostas, com o argumento que os resultados são melhores que as técnicas cognitivas. O método de aula expositiva é o modelo de educação superior herdeiro da educação tradicional. Para ela esse molde admite que o aluno é uma caixa e o professor ensina colocando conhecimento na caixa. Ou seja, o aluno é receptor passivo, já que no artigo de Peirce ”A Fixação das Crenças” pode se encontrar uma versão dessa refutação. O método de instrução tradicional direta, ou da aula expositiva, seria, nos termos de Peirce, autoritário. Ou seja, alguém que não o crente subsequente decide o que as crenças deverão ser, expressa-as, e as reforça. As restrições do ensino e aprendizado acrítico e autoritário propiciam uma revolta ao sistema de educação tradicional.
Conforme a perspectiva de Turrisi, o construtivismo seria uma opção para projetar um sistema de educação no qual a construção do significado de seu aprendizado, pelo estudante individual, é considerada uma prioridade. Sendo que mais adiante busca referenciais em Jean Piaget, Jerome Bruner e Lev Vygotsky, assim como em John Dewey. Para ela esses pensadores focaram o aprendizado para a vida interior do indivíduo. Ou seja, “enquanto experienciamos algo novo, o internalizamos por meio de nossas experiências ou construções de conhecimento que estabelecemos previamente”.
O construtivismo considera-se livre de dogmas. Até certo nível, então, ele está livre do dogma da autoridade e das crenças não derivadas através de um processo interno. O dilema a priori é este: apenas porque eu possa vir a crer em algo, isso não implica que outros virão a acreditar na mesma coisa. Se nós vivemos em comunidades, um universo público de qualquer tipo, é importante reconciliar aquilo em que eu acredito com aquilo em que outros acreditam. Planos educacionais construtivistas atentam para estas questões algumas vezes ao não avaliarem os estudantes através de um conjunto de critérios padrões, mas os encorajando a criarem portfólios sobre suas investigações que eles mesmos interpretam e avaliam. No conhecimento construtivista por teoria não se acredita que aquilo em que pensamos é verdade sobre uma realidade independente, mas apenas que é “verdadeiro para mim.” A ideia de que possamos experimentalmente determinar a verdade sobre uma realidade independente é impossível nos termos do construtivismo.
            Na segunda parte, sob a perspectiva do pragmatismo, considerado um método científico de pesquisa, ensino e aprendizado, a autora apresenta notas de Peirce (1903) escrevendo sobre as passagens que revelaram suas ideias a respeito inclusive da importância da lógica ser efetivamente considerada no âmbito de uma educação liberal. Ainda, ela cita que Peirce propõe seu “processo de formar opiniões filosóficas” e seu “método de discutir consigo mesmo uma questão filosófica”, já que nada pode ser aprendido de livros ou de aulas. Eles não devem ser tratados como oráculos mas simplesmente como fatos a serem estudados. Então, os fatos devem ser ensinados e aprendidos pelo pragmatismo, que apresenta três elementos significativos para a educação, que são: (1) a dependência das ciências em relação à lógica; (2) a natureza categorial do pensamento; e (3) a aplicação das categorias à realidade.
Turrisi apresenta que os ramos da lógica correspondem às três categorias da Fenomenologia, descobrindo e modelando o raciocínio que é representativo das relações entre a Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. A primeiridade refere-se ao fenômeno do sentimento, à percepção; a segundidade refere-se ao elemento de um fenômeno de força ou luta, à reação; a terceiridade é um meio entre um Segundo e seu Primeiro, uma representação, um geral ou uma lei. E, os correspondentes da lógica são a abdução, a dedução e a indução. A abdução origina uma ideia; a dedução examina os argumentos possíveis relacionados às ideias; a indução examina o grau pelo qual os argumentos são produzidos na experiência. O pragmatismo é o trabalho com as representações do começo ao fim.
Educadores que utilizam da instrução direta ou do construtivismo centrado no estudante, negam o desejo por tal método. A instrução direta ensina leis já descobertas como dogmas enquanto o construtivismo nega a existência de todas essas leis. O construtivismo promoveu métodos de ensino e aprendizado que preenchem algumas das condições necessárias para um pensador provir abduções. Escrever para aprender, discussões, e técnicas de aprendizado experiencial estimulam um ambiente no qual os estudantes assumem responsabilidade por proporem e solucionarem problemas de sua própria criação. Possibilitar a experiência produz familiaridade com o fenômeno. Há uma grande oportunidade para introduzir os ramos da lógica que lidam com predições e as respostas de fenômenos naturais a inferências que provam ou negam sua validade. A habilidade do pragmatismo de influenciar a concepção da realidade do estudante, e o engajamento com ela, melhoraria significativamente a educação moderna.
Portanto, Turrisi sugere que o espírito do pragmatismo torne-se manifesto na sala de aula: (1) a lógica deveria ser ensinada a partir da menor idade possível e continuada através de toda a educação superior; (2) a lógica deveria ser aplicada como um método para considerar quais efeitos, que poderiam concebivelmente ter conseqüências práticas. Estudantes deveriam ter oportunidades de praticar o método do pragmatismo; (3) possibilitar aos estudantes que se conscientizem de quão longe foram investigações sobre dados fenômenos. Pois, as mudanças promovem o “pensamento correto”. Condição em que os professores não são os juízes da verdade; a realidade é. Os alunos estudando lógica são apresentados às questões e problemas com que seus professores se acostumaram há bastante tempo.
Assim, os educadores precisariam acompanhar tais transformações promovendo que os alunos encarem o pensamento antes que eles considerem que tenham aprendido alguma coisa; e ele não se incomodaria de dedicar um tempo considerável a isso. Portanto, o treinamento em lógica seria uma solicitação para professores e estudantes. A experiência seria o fundamental para o ensino. A educação é um “objeto de concepção” do humano, cujo todo não é inteiramente conhecido ou compreendido. Tanto a instrução direta quanto o construtivismo não garantem, pelos seus pressupostos científicos, uma crença de que os objetivos da educação possam ser atingidos através desses métodos. Isso justifica que o método pragmatista de educação proposto auxilia a lógica para encontrar os efeitos, que poderiam repercutir na compreensão da realidade.

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[1] Rote method, no original. (N.Trad.)

 

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