sábado, 12 de janeiro de 2013

AS DIMENSÕES DO SABER


As discussões sobre a teoria de Bernard Charlot vivenciadas na Disciplina Saberes docente e aprenderes discentes, me fizeram realmente refletir, enquanto professora, sobre a relação que os alunos têm com o saber e perceber que nem sempre o “aprender” tem o mesmo sentido para alunos e professores. 

Aprender é exercer uma atividade em situação: em um local, em um momento da sua história e em condições de tempo diversas, com a ajuda de pessoas que a ajudam a aprender. A relação com o saber é relação com o mundo, em um sentido geral, mas é, também, relação com esses mundos particulares (meios, espaços...) nos quais a criança vive e aprende.  (CHARLOT, 2000, p. 67)
 
Diante disso, o texto O Saber e as Figuras do Aprender¹ contribuiu de forma significativa para minha compreensão dessa relação de saber e aprender. Gostaria de destacar as dimensões do saber abordadas por Charlot: a dimensão epistêmica, a dimensão de identidade e a dimensão social.

Dimensão epistêmica
Charlot aponta três formas de relação epistêmica com o saber:

·         Aprender enquanto atividade de apropriação de um saber, passar da não-posse à posse de determinado saber (saber-objeto); esse processo epistêmico é chamado de objetivação-denominação.

·         Aprender a dominar uma atividade, passar do não-domínio ao domínio de uma atividade; esse processo epistêmico é chamado imbricação do eu na situação.

·         Aprender significa entrar em um dispositivo relacional (apropriar-se de formas relacionais – relação consigo próprio, com os outros), dominar essas relações e encontrar a distância conveniente entre si e os outros; esse processo epistêmico é chamado distanciação-regulação.


 Dimensão de identidade
De acordo com Charlot toda relação com o saber é também uma relação consigo próprio e uma relação com o outro.

aprender faz sentido por referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas referências, à sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem que tem de si e à que quer dar de si aos outros. (CHARLOT, 2000, p. 72)

O que sou capaz de aprender? Essa relação de sucesso e fracasso com o saber permeia a vida dos alunos ao longo dos anos escolares. O autor cita o exemplo da relação de alguns estudantes com a matemática: alguns alunos relatam gostar da matemática em determinado ano porque gostam do professor e, no ano seguinte, não gostam da matéria porque não gostam do professor. Esse tipo de relação com a matemática está na dependência da relação com o professor e do aluno consigo mesmo. É uma situação na qual estão envolvidas as dimensões epistêmicas e de identidade.
Dimensão social
A relação com o saber é também uma relação social, pois o sujeito dessa relação não se relaciona apenas consigo mesmo (história de vida), mas com o mundo (lugar onde vive, origens), com outras pessoas (pais, colegas, professores), tem uma história social.
Charlot deixa claro que a dimensão social não se acrescenta às outras dimensões, mas contribui para dar-lhes uma forma particular, são dimensões inseparáveis.
O que sou capaz de aprender? O que nossos alunos são capazes de aprender nas escolas que temos? Estamos conseguindo mobilizar nossos alunos para o saber? Será que somos capazes sequer de perceber o que mobiliza ou não nossos alunos? Será que já não passou da hora de repensarmos os conteúdos e “práticas” de ensino que não tem sentido para as crianças e jovens?
Se o que nos move é o “desejo de” fazer, aprender, conhecer... precisamos tornar a educação desejável!

¹Este texto refere-se ao capítulo 5 do livro CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Atmed, 2000.


Vivian A. Corrêa Braz

 
REFERÊNCIA
 
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.