sábado, 12 de janeiro de 2013

Possibilidades entre a semiótica e a aprendizagem da lingua escrita.


PELEGRINI, Sônia Maria
                                                                                                                                               
           A partir das leituras e discussões da disciplina, fiquei tentada em pensar a relação proposta no título acima e resolvi arriscar. Este tema tem sido por demais debatido nas escolas e tem sido foco de políticas públicas dos governos municipais, estaduais e federal, em função do número de crianças não alfabetizadas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, encaminhadas aos anos finais do Ensino Fundamental e, dos resultados das avaliações externas; não entrarei aqui, no mérito da qualidade e validade destas avaliações.
          O Ministério da Educação - MEC lançou no final de 2012 um Pacto Nacional, que propõe que todas as crianças estejam alfabetizadas na idade certa, ou seja, ao final do 3º. ano de escolaridade, por volta dos oito anos de idade; o chamdo “Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa” – PNAIC, cujo objetivo é subsidiar ações que possibilitem as redes de ensino  buscarem alternativas para resolver esta “equação”. O referido programa está sob a coordenação pedagógica da Universidade Federal de Pernanbuco e terá como foco a formação dos professores que estejam atuando com os 1º., 2º. e 3º. anos do Ensino Fundamental. (para mais informações, ver site do MEC).
         Como professora alfabetizadora e, a frente de uma secretaria de Educação  Municipal nossa ideia é discutir e encontrar alternativas para  enfrentamento destas questões e, a partir deste contexto, relatarei uma experiência na rede municipal de Presidente Prudente, sob a coordenação da Prof. Dra Onaide Schwartz Mendonça, a frente do Nucleo de Ensino  da FCT/UNESP de Pres. Prudente.
        O projeto denominou-se: Alfabetização Sociolinguística no Município de Presidente Prudente e teve seu início como projeto piloto em duas escolas no ano de 2011.

Introduçao e Justificativa:
         Neste trabalho pretendemos apresentar resultados finais de pesquisa realizada em Projeto do Núcleo de Ensino da FCT/UNESP/ Presidente Prudente-SP, na rede Municipal de Ensino, no ano de 2011. Foi proposto uma formação continuada aos professores de duas escolas. A necessidade desta formação surgiu após a constatação do alto número de alunos não alfabetizados, nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º. ao 5º. ano). Essa proposta traz uma nova perspectiva para a alfabetização, pois compreende método como organização e sistematização do trabalho docente. Propõe que o processo tenha por princípio a realidade do aluno, desenvolvendo a oralidade e a conscientização através do diálogo, defende a implementação de atividades linguísticas para explorar conhecimentos específicos da alfabetização através da leitura diversificada do alfabeto, da ficha de descobertas, processos de análise e síntese, e de estratégias didáticas dos níveis pré-silábico, silábico e alfabético. Traz ainda, o trabalho com diferentes gêneros textuais e, com isso, promove também o letramento. É sócio, porque valoriza o diálogo no ambiente de sala de aula, e é linguístico, pois desenvolve atividades específicas de leitura e de escrita.

Objetivos:
         O objetivo foi oferecer  formação continuada aos professores em exercício e às equipes gestoras de duas escolas, com foco na alfabetização através do método Sociolingüístico, decorrentes da teoria da Psicogênese da Língua Escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, para garantir a alfabetização das crianças na idade certa.  

Descrição:
         O Projeto teve início com o oferecimento de um curso para professores das duas escolas, através do qual aprenderam teorias e práticas sobre o Método Sociolinguístico de Alfabetização.

Considerações iniciais:
         A análise dos dados indicou a evolução dos níveis de escrita em menos de três meses de trabalho. Os resultados da aplicação do método sociolinguístico mostraram que mais de 90% das crianças do 1° e do 2° anos, destas duas escolas, concluíram o ano alfabetizadas e que é possível alfabetizar todas as crianças na idade certa. Nessa proposta os alunos tornam-se de fato os sujeitos da sua aprendizagem, pois são motivadas e envolvidas passando a fazer parte do processo. Constatou-se que a maioria das crianças do 1º ano já havia compreendido o funcionamento do sistema linguístico na composição de palavras e frases, enquanto os de 2° ano passaram a produzir textos longos, coerentes e coesos.

Continuidade do projeto:
         No segundo semestre de 2011, foi diagnosticado um total de 13% de crianças dos 3º., 4º. e 5º. anos não alfabetizadas na rede municipal e, oferecida uma capacitação específica aos professores que trabalham com projeto de apoio nas escolas municipais e que atendem estas crianças.
         Face aos resultados a secretaria de Educação Municipal ofereceu, no inicio do ano letivo de 2012,  o curso à todos os professores de 1º. e 2º. anos. Tivemos assim em 2012 cerca de sessenta (60) professores, 50% da rede, trabalhando com a proposta  e os resultados começaram a aparecer  logo nos primeiros meses com avanços significativos.
         Ao final do ano de 2012 o resultado obtido foi de 72% das crinças do 1º. ano (com 5 e 6 anos de idade), já no ultimo estágio do processo de alfabetização - “alfabéticas”  e, 83% de crianças do 2º. ano (com 6 e 7 anos de idade),  já alfabetizadas e iniciando a produção de textos coerentes. Podemos pressupor com estes dados que “É possível alfabetizar todas as crianças na idade certa” (título do artigo apresentado, por nós, no I Congresso Internacional sobre a Teoria Histórico Cultural, em 2012, na UNESP de Marília).
         Acreditamos que essa proposta vem atender à demanda recorrente da escola e, dos professores que necessitam de fundamentação teórica e vivências produtivas de práticas e atividades para alfabetizarem com competência e, na idade certa.

Minhas reflexões:
         Para quem já alfabetizou crianças, cujo repertório, ou, como diz SILVA (2008), “o capital de signos disponíveis”, são reduzidos, é necessário conhecimento aprofundado sobre a construção do “signo” e que, sobretudo, conforme SILVA, o afeto inicia qualquer relação de aprendizagem, pois o que não afeta o sujeito, não atinge a mente e não produz “signo”.
        Na especificidade da aprendizagem da lingua escrita, poderíamos arriscar a seguinte relação quanto as categorias fundamentais do processo de significação: A primeiridade, seria a sensação, o sentimento e a curiosodade de querer e poder entender o mundo da escrita; a secundidade seria o movimento que a criança vive num ambiente alfabetizador que produza sentido, dúvida, surpresas, ao meu ver o principal momento para “afetar” as crianças; a terceiridade seria a elaboração do processo mental sobre a contrução da lingua escrita e sua aplicação/generalização a partir dos elementos intermediados pelo professor alfabetizador. 
        De acordo com SILVA:
O professor tem grande responsabilidade na condução do processo comunicativo/cognitivo, porém a aluno também é agente, é sujeito. O aluno não é passivo, não deve ficar a espera de um conhecimento pronto. O professor atua como um signo intermedeia os objetos do mundo ao aluno, ambos produzindo conhecimento nesse processo semiótico. Os três aspectos: mundo, aluno e professor estão envolvidos no processo, em uma trilha do conhecimento. (2008, p. 265)
        As propostas de práticas pedagógicas da metodologia sociolinguistica pressupoem que o aluno é parte integrante e sujeito da sua aprendizagem e nesta tríade o professor “internedeia” o mundo/objeto, no caso a lingua escrita, e o aluno com seu capital de signos disponíveis e, àqueles construídos ao longo do processo.
        Observou-se no decorrer da implantação da proposta o envolvimento e significação das crianças na contrução do processo. Houve depoimentos em que as crianças de uma escola da peliferia, escola de menor IDEB, em que as crianças ao sairem para o intervalo, queriam levar giz para bricarem de escolinha no pátio, tão significativo aquela experiência da descolberta do código linguístico. Outro resultado apontado em 2012, são as crianças de 5 e 6 anos do 1º. ano, de um bairro da zona de exclusão social  da cidade, produzindo livro com textos variados e, a mesma escola com cinco turmas de 1º. ano, pela primeira vez nos ultimos sete anos (período que a diretora está na escola), conseguiram mais de 90% de crianças, no ultimo estágio do processo da construção da escrita - alfabéticas.
         A partir destas reflexões, pode-se intuir que, não foi apenas o conhecimento da uma nova metodologia de ensino que provocou estas modificações e resultados, mas, o significado que afetou cada um dos professores alfabetizadores, na medida em que iam aprendendo e resignificando um novo jeito de propor atividades que envolvessem as crianças neste processo que “normamlmente” já tem uma significação para as crianças nesta idade.

Referencias bilbiográfica e bibliografia básica:
SILVA, A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação. Revista Teoria e Prática da Educação , Maringá, v.11,n.3,p.259-267, set-dez.2008.

MENDONÇA, Onaide Schwartz Correa de; PELEGRINI, Sônia Maria e MORAES, Margaret. Alfabetizar crianças na dade certa é possível. Trabalho completo apresentado no I Congresso Internacional sobre a Teoria Histórico Cultural, UNESP/Marília/SP, 2012.

MENDONÇA, O. S.; MENDONÇA, O. C. Alfabetização - Método Sociolinguístico: Consciência social, silábica e alfabética em Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2007. 150p., ISBN 978-85-249-1284-9.



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