quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Da teoria da reprodução à sociologia do sujeito


            

 Reprovação de um aluno em uma determinada série, a não-aquisição de certos conhecimentos e competências são casos que podem ser exprimidos pelo termo “fracasso escolar”. Entende-se por fracasso escolar qualquer insucesso envolvido no processo de ensino-aprendizagem, particularmente, o “porque” do aluno não conseguir aprender. Contudo, mesmo sabendo que a descoberta do fracasso escolar poderia solucionar dos problemas da escola, Charlot (2000) aponta que o “fracasso escolar” é complexo, amplo e impossível de ser palpado e analisado, portanto nos sugere entender que talvez não haja o fracasso escolar, mas que existam alunos em situação de fracasso[1].
Não por acaso, estudos sociológicos na década de 70, como de Bordieu tentam desvendar as causas do fracasso escolar por meio da teoria sociológica da reprodução. Essa investigação condena a escola como um local que contribui para a reprodução das desigualdades sociais. Já que, seu olhar investigativo parte da hipótese em afirmar que a probabilidade de sucesso escolar é maior nos filhos das classes dominantes do que nos filhos das classes desfavorecidas e, conseqüentemente, estes conseguiriam melhores condições no mercado do trabalho e na sociedade.
            Sob o ponto de vista estatístico não há o que contestar, filhos de pais das classes dominantes predominam com maior sucesso escolar, entretanto, Charlot (2000) critica a teoria de reprodução[2], por acreditar que é mecânica e reducionista ao excluir e ignorar as questões dos próprios sujeitos enquanto seres singulares que interpretam, dão sentido, agem no e sobre o mundo por meio das suas relações com os outros e também, a teoria não explica a totalidade dos fenômenos da expressão “fracasso escolar”. A principal queixa do autor, refere-se a possibilidade dos próprios sujeitos contribuírem nas próprias mudanças de destinos sociais. O que se quer dizer é que não basta ser somente “filho/herdeiro de...”, é indispensável que se estude, que se adquira uma atividade intelectual.
            É nesse pano de fundo que Charlot (2000) se interessa a ampliar seu campo de investigação, pois, assim como os estudos Bordieu, até dado momento as pesquisas da sociologia da educação buscam confirmar e validar se as teorias sociológicas se reproduzem na escola. Todavia, Charlot (2000) transita da idéia de coerção social como foco investigativo para uma possível “sociologia do sujeito”. Isto é, prefere considerar as questões subjetivas do indivíduo enquanto ser social dotado de história pessoal nascido em um mundo pré-existente/estruturado, sobretudo, submetido à obrigação de aprender para ocupar um lugar no mundo.



[1] Conforme dicionário Houaiss (2009): “não ter êxito; falhar, frustrar-se, malograr-se”. Para Charlot, o insucesso escolar, o não-êxito escolar.

[2] A palavra reprodução remete a idéia de não ter escolha, assim como quando nascemos (fruto de uma reprodução biológica) não tivemos a opção de manifestar interesse ou não de nascer, simplesmente nascemos. A teoria da reprodução na escola, assim como a palavra, condena o sujeito como resultado de uma reprodução, não tendo então, a opção de sucesso ou fracasso escolar.

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