quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

“Só aprende quem tem uma atividade intelectual”



Essa é uma frase que li durante os estudos sobre Charlot que ficou em minha mente, me acompanhou durante o final do ano quando estava naquela loucura típica de professor fechando notas, preparando exames e consequentemente (re) avaliando minha prática docente, e que agora busco expressar em palavras as reflexões que ela me provocou.
Há quatro anos tenho trabalhado no ensino superior essencialmente com turmas de Pedagogia. Inicialmente em instituições de ensino particulares, mas há dois anos em uma universidade pública. Logo quando fui trabalhar na universidade pública tinha uma ideia formada. Acreditava que todos os meus problemas estavam resolvidos, que eu finalmente encontraria “bons” alunos, que lessem todos os textos indicados, que interagissem durante as aulas, que fizessem perfeitamente os trabalhos, enfim, que aprendessem. Hoje tenho claro que era uma ilusão, uma falsa crença como aquela de muitos outros professores que acreditam que alunos melhores favorecidos economicamente aprendem melhor. Fui amadurecendo isso e buscando formas de compreender a aprendizagem de meus alunos para além das teorias psicológicas tão vistas durante a graduação (Piaget, Vigotski, etc.).
Charlot, autor que conheci na disciplina, tem me ajudado a elaborar algumas compreensões. Uma delas é que a história escolar de cada um deve ser levada em conta, pois essa história tem relação com o aprender. Segundo o autor, não existe automaticidade ou determinismo no aprender.
Se a classe social não é um determinante na aprendizagem, porque a universidade pública ou privada seria? Assim como há crianças vindas de famílias populares com mais facilidade e gosto no aprender do que alunos de classe média (O vídeo “O aluno e o saber” me ilustra bem isso http://www.youtube.com/watch?v=-k1Qj1Mnd2g), há também jovens e adultos no curso de pedagogia particular tão mobilizados como também pode haver em uma universidade pública e vice versa. Nos dois lados é possível encontrar o tipo de aluno que não sabe o que esta fazendo na faculdade, e mais especificamente num curso de pedagogia.
Pensar, portanto, na aprendizagem dos alunos nessa perspectiva requer pensar nos sentidos que são construídos pelos sujeitos, nas formas (eventualmente contraditórias) de mobilização no campo do saber e do aprender (Charlot, 2001), na humanização do sujeito que interpreta e expressa as relações sociais de forma singular, em síntese na forma como o sujeito se relaciona com o saber.

a questão da mobilização do sujeito, da sua entrada em atividade intelectual, parece central na problemática da relação com o saber: por que (motivo) e para que fim (fim, resultado) o sujeito se mobiliza? Que desejo sustenta esta atividade? Por que ela não se produz com a mesma frequência, nem sobre os mesmos objetos, nas diferentes classes sociais? Que postura (relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo) assume o sujeito que aprende: a(s) do Eu empírico ou do Eu epistêmico? (CHARLOT, 2001, p. 19)

Para Charlot (2001) a relação com o saber funciona como um processo que se desenvolve no tempo e implica atividades, que por sua vez, só se realizam se houver mobilização.
Como vimos nas leituras e discutimos em classe a mobilização é interna e supõe um desejo do próprio aluno. Segundo Charlot (2001) mobilizar é fazer uso de si, para si. No entanto, essa dinâmica é fomentada na troca com o mundo, onde o sujeito encontra metas desejáveis, meios de ação e outros recursos que são dela mesmo. Daí, podemos supor a importância do trabalho do professor em criar situações que possibilitem a mobilização.
Nossos alunos trazem consigo experiências, saberes que precisamos tomar e trazê-los para finalidade da escola. E é nessa relação que também aprendemos, que vamos nos formando continuamente.
Na medida em que nos dispomos a refletir sobre nossa ação vamos compreendendo porque nossos alunos não lêem os textos, não interagem, não compreendem minha linguagem, ficam de exame...(aqui refiro-me as minhas angústias no ensino superior).
 Problematizar a situação, e não naturalizá-las pode ser o primeiro passo para a mudança. É o que acredito!


Referências

CHARLOT, Bernard. Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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