domingo, 6 de janeiro de 2013

EDUCAÇÃO FÍSICA E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO: UMA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA E SEMÍOTICA - Mauro Betti.




Minha reflexão de hoje será baseada em um artigo que foi escrito pelo professor Mauro Betti em 2007 e contempla alguns aspectos da relação entre a Educação Física e a semiótica que acho interessante compartilhar com vocês.
Primeiramente o professor Mauro Betti aborda a questão da crise de identidade na Educação Física ocorrida especialmente no final da década de 1980 e início da década de 1990. Sabemos que naquela época muitas discussões foram realizadas em âmbito nacional na área da educação. Vínhamos de uma ditadura militar, depois passamos por um processo de reabertura política em que muito se discutiu acerca da necessidade de mudanças e quais rumos tomarem a partir daquele momento.
Dentre as discussões da época para a Educação Física, surge o termo “cultura corporal” que seria o saber corporal, “a perspectiva na qual ‘o movimentar-se é entendido como forma de comunicação com o mundo que é constituinte e construtora de cultura, mas também possibilitada por ela’” (BETTI, 2007), mas que “enquanto cultura habita no mundo do simbólico” (BRACHT, 1999).
Ao falar de “mundo do simbólico” imediatamente podemos associar então a “cultura corporal” com a semiótica de Peirce que nos permite pensar que signo é tudo aquilo que significa algo para alguém. Na Educação Física é preciso que a “cultura corporal” também seja repleta de signos para nossos alunos, que seja um conhecimento capaz de gerar outro conhecimento.
A “visão semiótica” de cultura (DAÓLIO, 2001, APUD BETTI 2007), é entendida como “conjunto de significados”, e permite considerar as pessoas “agentes de cultura”, ampliando assim “o conceito de cultura para um processo simbólico absolutamente dinâmico”. Ou seja, em meu entendimento, o processo simbólico é como um ciclo em que a construção dos signos realizados pelos alunos gera outros signos e, sendo assim, não acaba a não ser que o processo, por algum motivo, seja interrompido e tudo aquilo passe a não ter mais significado nenhum para ela.
“Assim, entender o fenômeno do corpo/motricidade, e da Educação Física como fato cultural, supõe apoio nos estudos dos signos” (BETTI, 2007). Betti (2007) já havia desde a década de 1990 nos alertado para a necessidade de se estabelecer relações entre a semiótica peirceana e o ensino da Educação Física, pois possibilitam aos professores e alunos uma troca durante o processo de ensino-aprendizagem independente de qualquer teoria. O professor incentivaria os alunos a consistirem signos ou quase signos através de palavras, situações e outros meios que podem auxiliar nessa função de associação sígnica do conhecimento (semioses).
Portanto, podemos dizer que a semiótica peirceana indica à Educação Física a importância de considerar tudo o que está além da cultura. Considerar o se-movimentar como gestos expressivos (signos) parece ser uma das soluções para que possamos ir aquém da cultura, e depois, retornarmos a ela (a cultura) novamente num processo dinâmico nessa construção.
A Educação Física não pode mais ser vista como uma intervenção, mas como uma inter-locução que possibilita o diálogo e como inter-pretação, que possibilita pensar no que esta “entre”. “Na Educação Física escolar apresenta-se de modo mais específico a questão do repertório dos alunos, pois  é  tarefa da escola ampliá-lo, para estender aos alunos as possibilidades  de  estabelecer  relações interpretantes” (BETTI, 2007, p. 216). Cabe a nós professores então ser um facilitador desse processo.



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