sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Da Relação com o Saber

A expressão “fracasso escolar” é algo que incomoda, que nos instiga a buscar respostas para tal situação. No texto de Bernard Charlot – Da relação com o Saber – Elementos para uma teoria,  chegamos a conclusão de que este campo está saturado de teorias construídas e opiniões de senso comum.
Partindo do pressuposto de que somente o homem não é, na origem, nada. O homem não é, deve tornar-se o que deve ser; para tal, deve ser educado por aqueles que suprem sua fraqueza inicial e deve educar-se, “tornar-se por si mesmo”, começamos assim, a compreender a importância desses conjuntos de relações e interações que são estabelecidas.
Segundo Charlot, esse sistema se elabora no próprio movimento através do qual eu me construo e sou construído pelos outros, esse movimento longo, complexo, nunca completamente acabado, que é chamado educação.
A educação é uma produção de si por si mesmo, mas essa autoprodução só é possível pela mediação do outro e com sua ajuda. A educação é produção de si por si mesmo; é o processo através do qual a criança que nasce inacabada se constrói enquanto ser humano, social e singular. Ninguém poderá educar-me se eu não consentir, de alguma maneira, se eu não colaborar; uma educação é impossível, se o sujeito a ser educado não investe pessoalmente no processo que o educa. Inversamente, porém, eu só posso educar-me numa troca com os outros e com o mundo; a educação é impossível, se a criança não encontra no mundo o que lhe permite construir-se. Desta maneira compreende-se o quanto o desejo é força propulsionadora que alimenta o processo.
Diante de tais considerações, passo a me questionar: Será que a escola possibilita esse desejo? Será que as crianças encontram neste espaço um espaço que educa?
O autor também apresenta que para haver atividade, a criança deve mobilizar-se. Para que se mobilize, a situação deve apresentar um significado para ela.
Outras inquietações surgem: Será que as atividades realizadas na escola permitem uma mobilização e apresentam um significado às crianças?
Charlot destaca que se o saber é relação, o processo que leva a adotar uma relação de saber com o mundo é que deve ser o objeto de uma educação intelectual e, não, a acumulação de conteúdos intelectuais. Trata-se de levar uma criança a inscrever-se em um certo tipo de relação com o mundo, consigo e com os outros, que proporciona prazer, mas sempre implica a renúncia, provisória ou profunda, de outras formas de relação com o mundo, consigo e com os outros.
Ao meu ver, esta citação é interessante para pensarmos sobre como essas relações de saber são necessárias para construir o saber e para apoiá-lo após a sua construção, não restringindo o saber aos conteúdos programáticos transmitidos nos bancos escolares, mas sim o estendendo a relações complexas.
Charlot também destaca que analisar a relação com o saber é estudar o sujeito confrontado à obrigação de aprender, em um mundo que ele partilha com outros: a relação com o saber é relação com o mundo, relação consigo mesmo, relação com os outros. Analisar a relação com o saber é analisar uma relação simbólica, ativa e temporal. Essa análise concerne à relação com o saber que um sujeito singular inscreve num espaço social.
Compreendendo a relação com o saber, desta maneira, mais ampla e profunda, nos permite compreender que não existe o “fracasso escolar”.

Priscila Sales Rodrigues                                                          

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