segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Análise do texto de Bernard Charlot, a partir das noções de “crença” e “dúvida” e do “método científico (abdutivo-indutivo)” de Charles S. Peirce





O texto contém críticas quanto ao caráter ideológico do pensamento e da prática pedagógica contemporânea e apresenta uma proposta baseada na concepção social da educação, mostrando as significações ideológicas, tanto na pedagogia tradicional quanto na nova, constituídas a partir de uma visão baseada na natureza humana e não a partir de uma análise da condição humana. Considera, pois, o discurso sobre a natureza humana como pedra angular da mistificação pedagógica, destacando três assuntos: A pedagogia tradicional versus a pedagogia nova; A atualização pedagógica: neurológica e a informática; e, por fim, a onda neoliberal dos anos 80 que reproduz desigualdades sociais de uma geração para a outra.
Sobre a pedagogia tradicional, a afirmação marcante é de que a natureza do indivíduo é originalmente corrompida. Conhece os seus interesses naturais, mas os recusa; opondo-se a eles, esforçando-se por disciplinar e inculcar-lhe regras. Em contrapartida, a pedagogia nova concebe a natureza do indivíduo como passível de corrupção, mas não originalmente corrompida. É marcante a insistência quanto ao fato do indivíduo como ser não acabado, em pleno desenvolvimento, a partir de um caminho dele próprio. De qualquer forma, ambas passaram a ser mais rótulos do que conceitos analíticos, imperando, ainda, o modelo tradicional. No entanto, um fato curioso e contraditório é que alguns professores declaram-se construtivistas (pedagogia nova) para evitar problemas, devido as impossibilidades geradas na "forma escolar" atual.

A respeito da neuroeducação aborda a mistificação do fracasso escolar como um fenômeno de ordem social, sem desmerecer as contribuições da neurologia para um melhor entendimento dos processos de aprendizagem. De mesmo modo, questiona a propagação da ideia de que "se podem resolver os problemas de aprendizagem e de formação colocando um computador ou um tablet na mochila do aluno". Sem negar o valor dos instrumentos informáticos, ataca, sim, o pensamento de que estes podem resolver os problemas da escola e da educação.

A respeito da onda neoliberal, há uma citação que julgo ser marcante no texto que diz "a pedagogia, ao mesmo tempo, fala de outra coisa que não a realidade social, exprime essa realidade sob o disfarce da natureza humana e, assim fazendo, legitima como naturais e culturais desigualdades cuja fonte é social". Neste lógica, a educação consiste em um serviço ofertado ao mercado e há um investimento realizado pelos pais. O papel do estado é ofertar uma educação mínima e barata aos mais pobres em escolas públicas. Por outro lado, os mais ricos a uma educação mais completa, ressaltando as desigualdades sociais, onde vai-se à escola para aumentar a quantidade e a qualidade do seu "capital humano" e, mais tarde, ocupar o melhor lugar possível no mercado de trabalho.

A partir das noções de “crença” e “dúvida” e do “método científico (abdutivo-indutivo)” de Charles S. Peirce , convém destacar que Freire (Freire e Papert, 1995) classifica o estado atual da escola como "péssima", mas para ele a questão não consiste em acabar com a escola, mas sim, mudá-la, tornando-a um ser tão atual quanto a tecnologia, colocando a escola a altura do seu tempo. Seguindo esta proposta, Papert sugere que o adoção das TIC (Tecnologia da Informação e da Comunicação) na educação tem como principal papel contornar o que ele chama de Segundo estágio (que começa quando o indivíduo ingressa na escola e, então, deixa de aprender e passa a ser ensinado, sufocando o instinto de curiosidade natural de criança), pois, permitirá ao aluno ser capaz de rejeitar a opressão (do modelo tradicional de ensino) e se manter dentro de um senso de curiosidade que tinha desde que era pequeno, ressaltando a escola como o local onde as pessoas devem ir e se encontrar para aprender, lembrando que nunca as TIC poderão substituir a escola. Por isso, exalta que o papel dos educadores é encontrar um novo caminho, buscar novas maneiras de lidar com as crianças, por meio de uma tríplice aliança: adulto-criança-saber.


REFERÊNCIAS


FREIRE, P.; PAPERT, S. O Futuro da Escola e o Impacto dos Novos Meios de Comunicação no Modelo de Escola Atual. Vídeo. Márcia Moreno e Marco Aurélio Del Rosso. São Paulo:TV PUC de São Paulo com apoio do Jornal da Tarde e Agência Estado, (1 DVD - 115 min. sonoro, colorido) 1995.


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