domingo, 19 de outubro de 2014

Atividade referente ao dia 03/10/14 – alunos ausentes


Conforme nos foi proposto, faço aqui algumas considerações acerca da leitura do prefácio à nova edição brasileira d’“A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene”, de Bernard Charlot (2013).
O texto se inicia pelo debate entre uma Pedagogia “tradicional” (educação enquanto inculcação de regras e luta contra o corpo) versus uma Pedagogia “nova” (educação para proteger a natureza da criança e a dignidade social), em que ocorre a distância entre a realidade social da criança e a escola em que ela está inserida. Percebemos, através desse debate, que o discurso e a prática pedagógica encontram-se distanciados das necessidades, desejos e interesses da criança e reforçam cada vez mais as desigualdades sociais já impostas, sendo a invenção de uma “Pedagogia Social” o caminho para a mudança.
Inúmeras vezes nos deparamos com professores que tem tais atitudes: em nome do “construtivismo”, de uma “aula que parte do aluno” e/ou de aulas não/ou pouco planejadas lançam mão de práticas hostis e discursos desmerecedores dos conhecimentos trazidos pelos estudantes, que reforçam as desigualdades sociais, culturais, econômicas e políticas que permeiam a sala de aula. Importante destacar uma frase do texto que nos ajuda a ilustrar essa situação: “Entre esses dois polos, porém, as palavras ‘tradicional’ e ‘novo’ perderam muito da sua substância intelectual e passaram a ser mais rótulos do que conceitos analíticos” (p.39).
 Outro ponto a destacar do texto por sua atualidade na realidade escolar brasileira (que inclusive eu já ouvi!), são os discursos neurológicos e a ideia de que a informática é a “salvadora da pátria” quando o assunto é o fracasso escolar dos alunos.
Infelizmente, os professores estão pouco preparados para lidar com o fracasso escolar, atribuindo-o, quase sempre, apenas ao aluno, sem considerar as condições da escola, os materiais disponíveis, os interesses desse aluno, a globalização e as novas demandas sociais impostas. Indo por esse caminho, consideram o computador o instrumento chave para a melhoria dessa situação, esquecendo-se da necessidade de preparo para lidar com a máquina, a infraestrutura necessária para seu funcionamento, o preparo e sua manutenção. Outras vezes, também é possível percebemos o contrário: o uso do equipamento não ocorre, pois o laboratório está fechado, trancado à chave “para não quebrar nada”. Novamente destacamos uma frase do texto: “Ao se considerar que o tablet em cada mochila vai democratizar o acesso à educação, esquece-se, mais uma vez, da dimensão social do problema e, logo, produz-se uma nova forma da mistificação pedagógica” (p.42).
Também é possível salientar a mistificação que toma conta da educação com as considerações acerca da lógica neoliberal, em que “a pedagogia, ao mesmo tempo, fala de outra coisa que não a realidade social, exprime essa realidade sob o disfarce da natureza humana e, assim fazendo, legitima como naturais e culturais desigualdades cuja fonte é social” (p.44). Ou seja, a educação passa a ser um serviço prestado a quem pode pagar por ele, reforçando-se as desigualdades sociais.

Após essas considerações, torna-se importante não perder de vista que “a educação é um triplo processo de humanização, socialização/ingresso em uma cultura e subjetivação/singularização. Indissociavelmente humana, social e singular” (p.49), ou seja, que deve ser observada enquanto fator de direito do ser humano, herdada historicamente, pertencente a uma determinada sociedade e dotada de características subjetivas quando se volta para o sujeito. Dessa forma, a educação deve oportunizar momentos de “formação”, “liberdade” ao sujeito e não o contrário.

Abraços a todos/todas,
Aline M. Mantovani

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