terça-feira, 28 de outubro de 2014

Reflexões sobre o texto: Uma ideia de pesquisa educacional - de José Mário Pires Azanha (São Paulo, 1992, EDUSP)

Olá, colegas da disciplina "Entre os saberes docentes e os aprenderes discentes", considerando o texto indicado para a nossa aula do dia 31 de outubro, apresento algumas reflexões:

Azanha (1992), ao tematizar o "conceito de método", expõe que "ter um conceito", numa prática científica, não se restringe a um desempenho verbal (falar sobre o método), mas se amplia e se confirma na prática (na ação), porque implica em saber fazer. Assim, de acordo com o autor, convém adotar a expressão "agir metodicamente", já que é no contexto prático que a adoção de um método se sustenta.

Diante disso, penso que o método sirva à ação, ou seja, ele deve ser escolhido de acordo com o objetivo de pesquisa que se tem, portanto o cotidiano/contexto de aplicação da pesquisa é que aponta qual o método a ser seguido. Em se tratando de pesquisas de mestrado e de doutorado, nós, pesquisadores, temos de zelar pelo respeito aos sujeitos/objetos das investigações, porque ter, previamente, um método definido e acabado, sem conhecer a realidade das escolas nas quais aplicamos nossas intervenções, é descaracterizar a prática e perder a noção do método.

Para Azanha (1992, p. 179), "ter um método" exibe, na ação, "um estilo que permite distinguir essa ação de uma outra que seja arbitrária ou aleatória, ou desordenada", portanto, tal estilo evidencia o seguimento a uma regra, que é importante para organizar as ações, avaliar os caminhos e os objetos em estudo.

O autor ainda destaca que "seguir uma regra é uma prática", bem diferente de apenas acreditar que se segue alguma regra, daí contrapõe, novamente, a ideia de verbalismo e ação. Somente na ação é que a regra existe, de fato. A prática não é uma atividade individual, mas uma constante de caráter social, assim, as práticas ocorrem nas comunidades e são legitimadas ou não por elas.

Considero que, neste sentido, as regras das pesquisas tenham, em algum momento, de dialogar com os sujeitos que participam das pesquisas, por isso, embora o fazer científico tenha a "proposição do tema,  a construção de teorias ou hipóteses, a formulação de conceitos, a observação" (p. 181) etc, não posso levar um caminho já pronto de intervenção na pesquisa que pretendo desenvolver em uma escola, porque isso significaria não ter razão de pesquisar, já que tudo estaria pronto na minha cabeça. A interação entre o pesquisador e o pesquisado permite uma ampliação das relações e a abertura a novos olhares, novas possibilidades de compreensão de um fenômeno, de um procedimento etc. 

Por outro lado, com Azanha (1992), refleti que existe necessidade de um método de investigação, já que este apontaria os "erros" ou fragilidades em um contexto e permitiria, com certo rigor, reconhecê-los e agir intencionalmente na superação das dificuldades, em busca de uma "prática eficiente". Mas que método utilizar? Haveria um método único de investigação?  Nos dizeres de Azanha (1992, p. 182), "não há um só grupo de regras que essencialmente permeie todas as práticas, mesmo se as considerássemos separadamente em grandes áreas". Desta maneira, compreendi que a "busca da verdade" na prática científica não está presa a um único método, mas ao compromisso de que as regras estabelecidas na prática sejam respeitadas, sem apego a dogmas, sem um vale-tudo, sem a preocupação com a queda de teorias, que na prática podem não se mostrar viáveis ou adequadas.

No momento, vejo que o texto de Azanha (1992) dialoga, ainda que sutilmente, com os estudos que temos feito na disciplina do professor Mauro Betti, acerca da Semiótica, já que numa concepção semiótica do cotidiano, a prática investigativa deve ser livre de preconceitos, não caminha com as verdades prontas, mas destaca o valor da inquietação e do "caos" para a promoção de processos reflexivos desencadeadores de mudanças. De fato, cada caso escolar, embora permita certas generalizações, é único, é contextual e cultural, portanto a Universidade e a Escola Básica não são, automaticamente, extensão uma da outra, elas têm natureza diferentes, saberes e regras distintos. Assim, as pesquisas educacionais que intencionem ser significativas precisam "adentrar" na realidade das práticas dos professores da educação básica, ouvindo-os, dando-lhes oportunidades de manifestarem o que pensam, o que sentem, o que fazem e o porquê de suas práticas...


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