terça-feira, 21 de outubro de 2014

As noções de crença e dúvida e o método científico de Charles Sanders Peirce no texto de Bernard Charlot.

O texto “A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene”, prefácio da edição brasileira do livro “A mistificação pedagógica – realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação” de Bernard Charlot, construído a partir de uma estrutura lógica, desde sua breve apresentação oferece situações para refletir sobre o momento em que o livro citado foi escrito e a sua reedição para os brasileiros mais de três décadas passadas e, por isso, permeado de questionamentos e posicionamentos que pudessem elucidar motivos para uma nova edição.
Para proceder à análise do texto à luz do pensamento de Charles S. Peirce é necessário versar sobre as noções por ele descritas. Peirce compreende que “todo avanço importante no campo da ciência tem correspondido a uma lição de lógica”(Peirce, 1972, p. 72). Desta forma “nossas crenças orientam nossos desejos e dão contorno a nossas ações”(idem.p.76).Com a crença podemos traçar nosso futuro mesmo que ela seja falível. Porém o oposto da crença é a dúvida que se estabelece por meio das experiências que vivemos que transtornam e que tornam combalida a crença. A ciência instaura crenças, geram as teorias que são descrições de mundos possíveis enquanto resultado do diálogo com a experiência. A dúvida gera esforço investigativo. Dentre os métodos de fixação das crenças, o método científico (abdutivo-indutivo), para Peirce, se aplicado corretamente é o meio de estabelecermos nossas crenças de forma válida.
O prefácio do livro, objeto da análise, reconhece que mesmo com as mudanças ocorridas no mundo duas teses permanecem bastante atuais: a distância entre o discurso pedagógico e a realidade social e a nova pedagogia não leva em consideração a realidade social da criança tal qual a pedagogia tradicional. A partir dessas premissas apresenta como caminho lógico o argumento fundamental do livro onde o discurso sobre a natureza humana necessariamente deve considerar sua dimensão social. No Brasil, local da reedição do livro, as professoras vivem intensas contradições entre o discurso da pedagogia nova e sua prática.  E ainda apresenta a neurociência e a informática como crenças que podem traçar um futuro para os processos educativos sem levar em consideração que a educação é um processo antropológico, social, cultural complexo e não um processo cerebral. Na perspectiva de Peirce, quem impõe a crença (ideologia) da pressão das tecnologias e das mídias, deve ser vista com certa dúvida e por isso promover investigações (estudos) para verificar o que de fato pode trazer benefícios para os processos educacionais, levando em conta que seus protagonistas são atores sociais.
 Traça a trajetória entre a primeira publicação e a segunda edição do livro que parte de uma perspectiva sociologia e histórica e se volta para uma reflexão antropológica como questão central no sentido de perquerir, de colocar em dúvida, as crenças como um “prolongamento do que já era postulado”, nas palavras de Charlot. Saindo de uma abordagem marxista e se voltando para uma relação centrada entre os sujeitos quando afirma que “o discurso pedagógico disfarça a desigualdade social em desigualdade natural e cultural: essa asserção é comprovada pela análise. Fazer isso é inaceitável: esse enunciado não é mais um resultado de pesquisa, é, sim, uma postura ética e política”, que independem da atitude do pesquisador. Apresenta o raciocínio da Semiose de Charles S. Perice quando elucida que o homem é essencialmente, integralmente social e essencialmente, integralmente singular. A complexidade do que não é dualístico: não há separação entre um e outro.
Lamentavelmente não estive presente na conversa com o Prof Bernard Charlot e o áudio em razão do local da conferencia, juntamente com a pronuncia do Português carregado de Francês me dificultou, para não dizer impossibilitou, a compreensão da fala do Prof. Charlot de modo que não pude extrair dados e usufruir de tão importante momento, mesmo  fazendo grande esforço em ouvir, ouvir e ouvir por diversas vezes a palestra.
Referências:
Bezerra, Efrem Pedroza – A fixação da crença de Charles Sandres Peirce. São Paulo: Ideias & Letras, 2008.
Peirce, Charles S. Semiótica e Filosofia. Editora Cultrix, São Paulo, 1972.
Abraços em tod@as,

Elena Fioretti.

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