quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Leituras e conversa com Bernard Charlot: imagens de uma educação excludente em desconstrução, provocações aos que se dizem pesquisadores da educação

Leituras e conversa com Bernard Charlot: imagens de uma educação   excludente em desconstrução, provocações  aos que se dizem  pesquisadores da educação

Charlot em seus escritos e em sua fala aos alunos do curso de pós-graduação em educação  discute suas teses provocativas,  que embora tivessem sido  construídas há mais de  30 anos,  continuam atuais. Sua produção teórica chama  atenção por  a todo momento problematizar a relação da escola  e seu papel desempenhado numa sociedade estruturada em relações sociais   desiguais, o que me mobiliza sempre, e ainda mais dado o momento político que estamos vivendo.
O autor chama-nos atenção  que enquanto as teorias  da educação brigam entre si em torno de suas crenças , “(...) as desigualdades sociais, a fome, o racismo, o desemprego, a corrupção política, a ditadura etc., isto é, as formas sociais e afetivas do ‘mal’, continuam e são  raramente objetos de debate na escola. Não interferem no funcionamento de escolas socialmente desiguais.”(p.37)
Nós pesquisadores, muitas vezes, signatários de  uma educação pedante  somos colocados em grande movimentação intelectual ao ouvir Charlot e assim tocados a pensar o sentido do sentidos dados à educação, somos mobilizados a fazer o movimento do pensamento científico que transita da crença à dúvida. A refletir sobre “ o ser humano e o sentido do que ele confere à sua atividade e a si mesmo”. (p.47). Isto significa,  numa perspectiva antropológica  ressignificar o objeto de acordo com os sujeitos, as situações, ou seja é preciso ressignificar a educação , despí-la dos discursos que naturalizam a  desigualdade social.
Quando  Charlot afirma que  não há uma natureza humana e assim uma naturalização das desigualdades sociais,  como as teorias pedagógicas, e hoje a “dominação ideológica neoliberal que nos impõe a pensar tudo em termos de sujeito” (p.48), querem nos fazem acreditar,   luta contra a ideia de uma naturalização dos fenômenos como do fracasso escolar, pois explicita que  o ser humano tem uma condição que não se reduz a desdobramentos  biológicos,  filogenéticos ou culturais deterministas.
Na perspectiva afirmativamente da  condição humana, nas palavras de Charlot :  “(...) a cria humana nasce inacabada, mas nasce em um mundo adulto, em um determinado lugar especial , temporal, social e sexual  desse mundo e, ao longo de uma história singular ele se torna um sujeito, diferente de qualquer um outro. A negação dos discursos de natureza humana, exige da educação  um triplo papel de humanização, pois  deve  olhar  a criança como um sujeito que é “ humano, social e singular”. (p.49)
Nas  falas  em  nos  escritos de Charlot,  a todo momento,  a cada palavra,  há um confronto  para aqueles que se pretendem pensadores, pesquisadores da educação,  pois nos questiona como podemos pensar a educação  sem levantar, ao mesmo tempo a questão da desigualdade social, a do sujeito, a da atividade e, indo até o fim do caminho, a  do sujeito e do seu desejo” (p.47) . Ficou o desafio  de  nos damos conta de nossa mesquinhez  científica, que tacitamente  não  se move em busca de caminhos para transformar  a educação a partir de outros olhares, e lutar   contra  a desigualdade social.
 As palavras de Charlot  para alunos do curso de pós-graduação  em Educação, portanto, professores  e pesquisadores  da educação  foram provocativas, como o são  em seus livros, pois a todo o momento questiona  os discursos pedagógicos   que justificam uma educação que se pretende alheia a desigualdades sociais. Charlot nos pergunta quando iremos assumir o desafio de “(...) uma pedagogia social, isto é, de uma pedagogia que não desconhece ou disfarça, mas sim, integra a questão  das desigualdades sociais e, de forma mais ampla, a das funções sociais da educação.” (p.38). Pensar estas questões, antes de tudo, é um compromisso ético que deve ser assumido por nós  pesquisadores da educação

Referências


CHARLOT, B.  A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene – prefácio à nova  edição brasileira. In: ____. A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013. p.33-50


                                                                                    Dulcinéia Beirigo de Souza

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