segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A PEDAGOGIA TRADICIONAL E A PEDAGOGIA NOVA

Maria Ângela Rubini

A educação tem sido centro de importantes debates no Brasil e no mundo. Analisando cronologicamente, partindo da Educação Pública Religiosa (séc. XVI e XVII) à Educação Pública Democrática (séc. XX), observamos a trajetória das políticas educacionais marcadas por transformações introduzidas no sistema nacional, identificando os avanços e retrocessos, buscando assumir um compromisso que interfira no processo de ensino e aprendizagem, considerando o cidadão do século 21 e suas necessidades.
Charlot, (encontro UNESP, 03/10/14), menciona essa questão ao trazer em pauta, reflexões sobre a Pedagogia Tradicional e a Pedagogia Nova, analisando as diferentes concepções filosóficas que cada uma contempla, contribuindo para a formação docente, na clareza que se deve ter, em direção a uma escola de qualidade, comprometida com a mudança social.
Na pedagogia tradicional, a infância é concebida como corruptível, a natureza humana trava uma luta consigo mesma, pois é nesse período em que o vício e o erro brotam. Por não ter a personalidade formada, a criança está disponível e vulnerável, é fraca e é atraída pelo mal; Nada tem de inocente, ainda traz em si o pecado original. O diabo à tenta e ela não faz nada para combatê-lo. Essa concepção acredita que se deixar a criança livre por alguns instantes, ela se deixará levar pelo mal. Sendo incapaz de agir com razão, a criança deve então ser guiada e obedecer ao adulto que já possui experiência e a protegerá dos perigos.
A pedagogia tradicional tem por objetivo educar a criança impondo-lhe regras e disciplina, a prática é permeada pelo autoritarismo, exigindo dos alunos silêncio e imobilidade, posicionando-os em fileiras, apoiando-se na pedagogia da antinatureza.
A pedagogia nova tem uma interpretação de infância corruptível contrária à pedagogia tradicional. Ambas concebem a natureza da criança como corrupta, porém a pedagogia nova defende a infância como período de inocência que deve ser protegido, porque ela não é naturalmente corrupta.
Diferentemente da pedagogia tradicional, a pedagogia nova valoriza a expressão livre da infância: desenho livre, brincadeira livre, texto livre, etc. Há uma necessidade de respeitar a criança, o fato dela ser inacabada, é positivo, significa que ela está se desenvolvendo, experimentando, esse processo não deve ser perturbado porque ela está amadurecendo, e sendo assim, ela é julgada em função do conhecimento adquirido e não do que lhe falta. Essa fase não é maldita, antes sim, é um período de humanidade, onde a inocência, a liberdade, a espontaneidade, a confiança se faz presente. Ao se tornar adulto, o individuo perde esses valores para a cristalização corruptível presente no homem.
Para a pedagogia tradicional e para a pedagogia nova, a natureza da criança é corruptível, a diferença é que para a tradicional a natureza humana corrupta é original, enquanto que para a pedagogia nova é social. Essas duas vertentes argumentam em como desenvolver um sujeito plenamente realizado, mas ambas não consideram a realidade social. A pedagogia nova propõe uma ruptura cultural com a pedagogia tradicional, mas no campo educacional, pouco contribuiu para mudanças na reprodução das desigualdades sociais, suas discussões ficaram no nível filosófico-religioso.
Postas as considerações sobre essas duas pedagogias na história da educação brasileira, Charlot fala sobre a dependência da criança em relação ao adulto. Ela nasce e cresce, filho de burguês ou de proletário, num meio que certamente a influenciará, mas não será fator determinante para o seu sucesso ou fracasso escolar e cita como exemplo, duas crianças de uma mesma família que podem obter resultados escolares diferentes. Isso nos mostra que a criança ocupa um lugar na sociedade, essa posição se desenvolve no convívio com os adultos e outras crianças, embora a sociologia da reprodução estabeleça uma relação entre posição social e sucesso ou fracasso, Charlot afirma que é preciso considerar a historia singular do aluno e as relações que ele estabelece com o saber.


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