quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Reflexões a partir da conversa com Bernard Charlot


Em primeiro lugar, embora seja inquestionável, gostaria de pronunciar que foi uma emoção e uma grande satisfação ter tido a oportunidade de conhecer pessoalmente o prof. Charlot...
Foram tantos assuntos importantes que ele falou que não saberia eleger um para fazer um comentário, porém, optei por fazer meus comentários acerca de  algumas afirmações que ele fez durante a tarde do último dia 03. Uma dessa afirmações é sobre “a escola ser um lugar de aprendizagem, mas também de socialização”. Optei por partir dessa afirmação para discorrer um pouco sobre algo que já havia feito em minha dissertação quando procurava discutir a importância da escola ser inclusiva e quais são os pressupostos que devem embasar a construção de uma escola inclusiva, portanto, minhas considerações, reflexões e perguntas aqui descritas partem desses pressupostos que a meu ver estão de alguma forma “conectados” com os pensamentos do prof. Charlot.
É necessário que a escola busque ensinar a todos os seus alunos e com qualidade! Porém, torna-se também fundamental que a aprendizagem seja entendida como um processo de construção, transformação, intervenção na realidade, mudanças de conceitos e paradigmas não somente voltado para os conteúdos conceituais, mas também àqueles procedimentais e atitudinais... Estes conhecimentos devem estar atrelados à cultura e à vida cotidiana e em última análise à socialização. Esta socialização, de acordo com COLL, 1995, citado por Miralha, 2008, essa interação mediada pelos signos, em especial a linguagem possibilita ao sujeito, para além de uma mera “socialização” no sentido de compreender e seguir regras sociais, aprender e apreender a mediar suas relações com o mundo, através dos símbolos e dos signos, influenciado na forma como planeja e executa suas ações, em suas habilidades cognitivas, na sua forma de perceber e compreender o mundo.
De acordo com alguns estudiosos da área educacional, o aluno ao aprender os conteúdos acadêmicos, por exemplo, devem também aprender a se relacionar com esses conhecimentos. Toda relação com o saber é, indissociavelmente, uma relação singular e social, é uma relação com o outro, estabelecida de diferentes formas.
Cada indivíduo pertence a diferentes instituições, tais como: família, espaços religiosos, escola e etc, dentro das quais as relações com o saber são diferentes. A escola, por sua vez, é um lugar que induz relações com o saber, o que estabelece uma dialética entre interioridade e exterioridade: aprender significa tornar algo seu, interiorizá-lo, mas também significa apropriar-se de uma prática, de uma forma de relação com os outros e consigo mesmo.
Na medida em que o indivíduo aprende, ele se humaniza, se subjetiva/singulariza e se socializa.
O sujeito constrói sua identidade, sua forma de ser e de lidar com o saber, que só é possível pela intervenção do outro: o outro que medeia o processo, o outro interiorizado que cada um traz em si e o outro resente nas obras produzidas pelo ser humano (CHARLOT, 2001).
Diante disso, é preciso que pensemos sobre as intervenções e mediações que nós enquanto profissionais da educação temos feito com os estudantes de nosso país? Quais identidades estão sendo construídas a partir de nossa intervenção? Como estes alunos estão se relacionando com a escola e com “os saberes” que ela deve proporcionar? O que a escola tem significado aos alunos? Qual a visão de mundo que estes alunos estão construindo?
Diante disso, também coloco para a reflexão outro aspecto apontado pelo prof. Charlot em sua fala – “precisamos mobilizar e não apenas motivar os estudantes para a aprendizagem”. E, de acordo com Charlot (2001), a relação entre “o desejo e o saber” estão diretamente atreladas entre o aprendiz e aquilo que estão tentando lhes ensinar.
Estes questionamentos são para todos nós; estejamos atuando dentro da escola ou não, pois se fazemos parte de um Programa de Pós-Graduação em Educação temos um compromisso com a educação de nosso país...

CHARLOT, Bernard. A noção de relação com o saber: bases de apoio teórico e fundamentos antropológicos. In: CHARLOT, B. (org.) Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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