quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pragmatismo e/ou Pragmaticismo: reflexões

Com o acesso aos textos de semiótica que circulam na disciplina observei o uso das palavras pragmatismo e pragamaticismo. Considerando que esses textos são de conteúdo filosófico procurei compreender se, se tratavam de diferenças apenas de ordem semântica ou se conceitos semelhantes ou mesmo que diferenças e sentidos esses conceitos querem empregar. A partir dessas conjeturas pensei se esse conteúdo seria uma possível contribuição para desfrutar, pensar e questionar.   
            Consultando diferentes fontes inicialmente apreende-se que o termo Pragmatismo constituiu uma escola de filosofia do final do Século XIX, e surgiu no Metaphysical Club conduzido pelo Lógico Charles Sandres Peirce, o Psicólogo William James, pelo Jurista Oliver Wendell Holmes Jr e Chauncey Wriht, estabelecidos nos Estados Unidos. O termo “Pragmatismo” de autoria de Peirce em 1870 tem seu primeiro registro em 1898, sendo usado por W. James.
            Com a intenção de encontrar nuances que possam distinguir os termos Pagmatismo e Pragmaticismo sem buscar aprofundar questões de ordem filosóficas mais profundas é possível considerar que Peirce deu o título de Pragmatismo as Ciências Normativas “como uma doutrina lógica ou método para determinar o significado dos conceitos intelectuais, e, aponta diretamente para a importância da ética (Santaella, 2002, p.78). O Pragmatismo postula que as teorias cientificas e filosóficas sejam usadas como instrumento a serem julgados por seus resultados ou fins onde W. James sugere que a veracidade de uma idéia deve ser considerada em um sentido instrumental, analisando os resultados produzidos por sua adoção, uma visão utilitária da verdade. Desta forma a filosofia do Pragmatismo para W. James, seria um meio-termo entre o racionalismo e o empirismo com uma perspectiva aberta à investigação de qualquer hipótese, desde que seja capaz de se mostrar concretamente útil. O pragmatismo não aceita a ciência pela própria ciência. Um estudo só se justifica s há alguma utilidade social e defende que uma teoria só pode ser comprovada por suas evidencias praticas, tendo assim semelhanças com o empirismo. Peirce defende as teorias científicas como conjuntos de hipóteses cuja validade só pode ser determinada levando-se em conta seus resultados, efeitos e conseqüências, a prática científica propriamente dita.
            A partir de 1905, Peirce passa a usar o termo Pragmaticismo entendendo que o nome originalmente indicado para designar sua filosofia estaria sendo usado por “jornais literários” por ele não aprovado. Por outro lado a questão que distingue o pragmatismo do pragmaticismo esta no entendimento aos desdobramentos práticos. O pragmatismo daria relevância apenas às evidências empíricas e às práticas mais vantajosas para o sujeito individual sendo considerado por ele, então, uma doutrina filosófica menos exigente que o pragmaticismo que passa adotar, inclusive, ainda, para evitar que o conceito que empregava fosse psicologizado, como ocorreu com o pragmatismo após sair do Metaphysical Club .
            Ao “substituir o termo Pragmatismo que segundo Peirce (1983, p. 286), serviu ‘para exprimir algum significado que lhe incumbia, antes, excluir’, por Pragmaticismo, Peirce (2000), preocupado com as terminologias, entende que a designação da doutrina termina em ismo, e o sufixo icismo, por sua vez, assinala um sentido mais rigorosamente definido”(Zouein, 2009, p. 61).
É importante considerar ainda que “o pragmaticismo está vinculado a várias doutrinas peirceanas: o anti-cartesianismo (Santaella, p.1993:26 et. seq.), o falibilismo, continuísmo [sinequismo] e evolução (CP 1.141 et. seq.), à “dúvida, crença e hábito” (CP 5.371 e 372), ao realismo (CP 1.161 e Ibri (1992:39-40)) e também à lógica ou semiótica, cujos vínculos com a fenomenologia são mais evidentes, ou talvez mais conhecidos, do que nas doutrinas (FRANKENTHAL, 2004, p.2)”. (Idem, p.62).
Para Fidalgo (2010), o “pragmatismo, como Peirce o concebe, é um método lógico-semiótico de clarificação das idéias”. Rodrigues e Reino (2010) esclarece que “o Pragmaticismo enquanto método, caracteriza-se pela orientação à conduta que, por conseqüência, se realiza ao se fixar uma crença e apresenta uma passagem dos manuscritos de Peirce que “pode-se verificar que ‘a crença é estabelecida quando um hábito estável é formado, envolvendo o estabelecimento de uma regra de ação’ (CP 5.397)”.
Silveira alerta que “ao recortar-se com cuidado o objeto do "pragmaticismo", como doutrina filosófica onde se insere a teoria semiótica, mais clara fica a insistência de que é na produção do conceito que a investigação pretende se concentrar e que é que mais plenamente o conceito de signo se realiza. Assim, em "What Pragmatism is" (6. 5.428), respondendo ao objetante que se opunha ao fato do pragmaticismo não pretender voltar-se especialmente para o caráter sensual da experiência do mundo, Peirce reafirma que: "o pragmaticismo não pretende definir os equivalentes fenomenais das palavras e das idéias gerais, mas, ao contrário, eliminar seu elemento sensual, e se empenha em definir seu teor racional, encontrando-o no porte intencional (purposive bearing) da palavra ou da proposição em questão" (Silveira, 1989, p.72).

Algumas consultas
Fidalgo, António. O Método pragmatista em Charles Sandres Peirce, Universidade da Beira Interior, 2010, Portugal.
Rodrigues, Luciene e Reino, Thaisa. O problema da identidade pessoal no âmbito do pragmaticismo. Revista eletrônica de filosofia Cognitivo-estudos. Volume 7, no. 2, julho-dezembro, pp. 160-165. São Paulo, 2010, disponível em  http://www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo>

Santaella, Lucia. Semiótica aplicada. Ed. Pioneira. São Paulo, 2002.
Silveira, Lauro Barbosa da, Charles Sandres Peirce enquanto Semiótica. Revista trans/For/Ação. No. 12. Pags 71-84. São Paulo, 1989.

Zouein, Mauricio Elias. Signo Kudiiyada Kayaa: qualissignos de uma transformação cultural. Signo mito Kudiiyada Kayaa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade Católica.Brasília, 2009

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