quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Dewey, as Ciências Cognitivas e a autonomia das máquinas.
João Ferreira Filho

Segundo Dewey há uma tendência muito forte e de antiga tradição que nos prende a racionalidade, no entanto nós não podemos ficar presos apenas à racionalidade e desconsiderar ou negligenciar as emoções.
Os racionalistas, a exemplo de Descartes, descartaram toda possibilidade de percepção como caminho à verdade (a experiência cotidiana é desprezível) e instalaram a dúvida metódica.
Dewey critica este dualismo que supervaloriza a mente em detrimento da experiência. Ele não concebe este dualismo de conhecimento que separa conhecimento científico de conhecimento comum; é a tradição filosófica que busca demonstrar que o ato de teorizar é completo por si só, o que conduz a supervalorização da mente/razão e detrimento de toda e qualquer experiência.

[...] essa separação se mostra especialmente perniciosa quando o conhecimento comum é menosprezado, quando as emoções são consideradas meros elementos que perturbam a razão, afecções ou patologias de que ela deve afastar-se para a obtenção de um conhecimento puro, estável e universal, não confundido pela dinâmica da vida, suas constantes mudanças e desafios. [...] O estável e o constante nos agradam, ao passo que a mudança e a inconstância nos assustam. (Bronens, Andrade, Pilan, p. 26)

É pela integração entre razão e ação que a aprendizagem acontece, num movimento de “fluxo e refluxo” contínuo de experiências indissociáveis entre si, “nessa dinâmica de interação ativo-passiva com e do ambiente” – entre o racional e a experiência que se dá a transformação do hábito em conhecimento reflexivo. Ai se dá o conhecimento de fato.

Quando uma atividade continua pelas consequências que dela decorrem [...], quando a mudança feita pela ação se reflete em uma mudança operada em nós, esse fluxo e refluxo são perpassados de significação. Aprendemos alguma coisa. (Bronens, Andrade, Pilan, apud Dewey, 1959, p.152)

Conhecimento implica em mudanças. Minhas experiências permitem prever acontecimentos futuros, mas isto não é infalível, assim quando acontece o erro, o organismo utiliza-o em experiências futuras, reaproveita-o em novas experiências. Por isto estamos em constante processo de aperfeiçoamento participativo e interativo
O hábito por si só não trás conhecimento é preciso a reflexão sobre o fato, é preciso que a ação se torne uma ação inteligente capaz de buscar as alterações futuras.
Na mesma linha cartesiana, mas pensando além, está a Filosofia Cognitiva ou da Mente que busca produzir modelos mecânicos da mente, merecendo especial destaque os modelos computacionais.
Mesmo as pesquisas com Inteligência Artificial (IA) privilegiam, de certo modo, a mente em detrimento do aspecto material.
Algumas máquinas reproduzem ações de sucesso, mas ainda assim são frutos de uma programação, “trata-se de um modelo computacional da mente desprovido da corporeidade evolutivamente moldada pelos fluxos e refluxos da experiência do organismo no mundo” (p. 29)
Este movimento acolhido por vários pensadores tem por proposta a “cognição incorporada” que geram “robôs-guias” capazes de “prever” e “buscar soluções” para certas situações, assim parece que a robótica começa a estreitar os laços entre corpo e mente.
Se por um lado se recupera o pensamento de Dewey, pois

[...] a ação inteligente não é mais concebida apenas como o resultado de um planejamento algorítmico que a preceda e que exerce em relação a ela um poder causal, em moldes assemelhados, como vimos, ao suposto poder causal da res cogitas sobre a res extensa no contexto ontológico do dualismo cartesiano. (Bronens, Andrade, Pilan, p. 30)

No entanto este movimento cerebrocentrísmo nos trás outras preocupações no sentido da tendência reducionista e de desconsiderar a unidade corpórea em suas relações ambientais.

Quando se repensa em Dewey e na indissociabilidade entre conhecimento e ação se vê limites do projeto da explicação dada pelas Ciências Cognitivas e pelas Neurociências.

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