sexta-feira, 17 de outubro de 2014

CONVERSA  COM  CHARLOT – 03/10/14

Logo no início da fala de Bernard Charlot, ele menciona que a sua primeira graduação foi Filosofia e aos vinte e cinco anos começou a lecionar para professores, fatores que contribuíram para que ele direcionasse suas reflexões acerca da educação considerando a questão da desigualdade social, a do sentido, a da atividade, a do sujeito e seu desejo.
Charlot nos propõe a refletir sobre o conceito de ideologia redefinindo-a não tão somente como sistema de ideias mas, na visão marxista, como sistema de ideias e homens no tempo que, ao mesmo tempo, expressam e disfarçam a realidade. Afirma que os políticos falam de ideias que disfarçam a realidade. Neste sentido, alerta-nos quanto à ocultação da dimensão social nos discursos pedagógicos embasados na natureza humana tanto da Pedagogia Tradicional quanto da Pedagogia Nova.
Na sequência da conversa, apresenta o que ele considerou um bom exemplo de ideologia: a expressão “igualdade de oportunidades” (mesma chance de chegar ao topo ou ficar embaixo) incorpora a ideia de desigualdade de oportunidade porque os resultados não são iguais. Destarte, mostra a relevância de sua pesquisa sobre a relação com o saber, na qual se considera a realidade social e a subjetividade da pessoa. O que ocorre dentro da sala de aula deve ser compreendido para além dos muros da escola, deve ser analisada a relação com o saber entre o estudante e o professor, analisar o que se tem chamado de atividades escolares ( segundo o professor Charlot, são operações de uma atividade que se chama passar de ano) porque a escola atua entre o motivo e o objetivo.
Nesta abordagem coloca-se crítico à motivação porque o professor inventa alguma coisa para os alunos fazerem sem que os alunos queiram o que, muitas vezes, leva a escola a ser vista para acumular pontos e obter certificados. Propõe o despertar do desejo, o instigar a curiosidade, desencadeando mobilização para estudar e aprender na escola. Afirma que a escola não é lugar de dar respostas, mas sim elucidar perguntas por meio de investigação e que estas não devem necessariamente serem elaboradas pelas crianças, podem partir do professor, entretanto, devem suscitar o desejo de investigação. Assim, o sujeito que é, ao mesmo tempo, singular e social, produz sentidos e significados sobre si e sobre o mundo, construindo sua singularidade.
Na explanação de Charlot, como bem apontou o professor Mauro Betti, foi possível perceber indicações da semiótica, muito embora o nosso convidado tenha afirmado ter pouco conhecimento a respeito desta e, portanto, não teria condições de estabelecer paralelos. A saber: na questão da significação (social) e do sentido (individual), constituintes da relação entre motivo e resultado (objetivo) na qual Charlot considera relevante a experiência de vida e atividade no plano individual para além da atividade tida como operação para passar de ano. Do mesmo modo como o pragmatismo  de Peirce condena a aprendizagem pautada somente na terceiridade e ressalta o processo de problematização, investigação, experiência, mediante pensamento reflexivo, produzindo dados que possibilitem o processo de significação e ou (re)significação, mudança de conduta.

  

Neiva Solange da Silva Costa

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