terça-feira, 28 de outubro de 2014

Análise do Texto de Bernard Charlot, a partir das noções de "crença" e "dúvida" e do "método científico (abdutivo-indutivo)" de Charles S. Pierce.

                                

                                           A educação é política

 A primeira coisa que me chamou a atenção, e segundo Charlot foi o que mais repercutiu quando ele escreveu este livro foi o fato de o mesmo colocar em evidência, que a educação é política, isto é, ela tem o poder de libertar o ser humano, de transformá-lo e assim construir um novo significado para o mundo e para a sociedade.
 No texto duas teses são centrais, a primeira é de que existe um abismo entre o discurso pedagógico e a realidade social, ou seja, a teoria busca o desenvolvimento da criança para torná-la um ser humano e no entanto silencia a questão do seu pertencimento social. A segunda tese explica que a pedagogia "nova" ou como é conhecida no Brasil "construtivista" por mais diferente que seja da pedagogia tradicional, aborda a questão da educação da mesma forma, isto é, sem considerar a realidade social da criança.
 A questão central para Charlot é o fato das teorias educacionais desconsiderarem a realidade social da criança, para ele é fundamental pensarmos em uma pedagogia social, que construa não somente um movimento de educação popular, mas, também, um movimento popular sobre a educação. Para Charlot sem o segundo o primeiro não encontraria nenhum apoio em forças sociais e continuaria sendo "um discurso que desliza na realidade da educação, sem mudá-la"(p.37)
 A argumentação do livro repousa na análise da função do conceito de Natureza nos discursos pedagógicos, segundo Charlot a "crença" ou "mistificação pedagógica" é de que existiria um natureza humana e que o sucesso ou o insucesso do sujeito estaria fundamentalmente ligado a essa natureza, ou seja, para a pedagogia tradicional a natureza da criança é corrompida e a educação deve livrá-la dessa corrupção, enquanto que para a pedagogia "construtivista" a criança é tida como naturalmente inocente e a sociedade adulta é que a corromperia e a esterilizaria, sendo assim a educação teria como objetivo principal proteger a natureza da criança e garantir a dignidade social sem desvirtuá-la.
 Charlot acredita que o mais importante, o ponto fundamental é perceber que enquanto a discussão permanece no âmbito filosófico-religioso, o verdadeiro "mal", as desigualdades sociais, continuam a ser ignoradas tanto pelos teóricos quanto pela própria escola.  Segundo o autor é preciso colocar em dúvida esses discursos e compreender o significado da realidade social na relação do sujeito com o saber, o conceito fundador de uma pedagogia social é justamente o de que não exite uma natureza humana, sendo este o conceito principal da mistificação pedagógica.
 Atualmente novas crenças segundo Charlot, ou novas mistificações tem surgido como a "neurológica" e a "informática", para ele não devemos negar as contribuições das mesmas, no entanto é preciso sempre colocar em dúvida suas soluções milagrosas e ficarmos atentos para os problemas que as mesmas podem trazer no âmbito educacional especialmente acerca da invenção de novas desigualdades sociais.
 Ao repensar todas essas questões Charlot compreende que as pesquisas que realizou sobre a relação com o saber levantaram um ponto fundamental que é a questão do sentido da educação, da escola e do que se aprende, assim, como, o levaram a uma reflexão antropológica sobre o próprio conceito de homem.
  Charlot nos mostra que o discurso pedagógico disfarça a desigualdade social em desigualdade natural e cultural, para ele não se pode pensar a educação sem levar em consideração a questão da desigualdade social, assim, como a do sentido, a do sujeito e do seu desejo, é preciso sair deste estado de "crença" ou "mistificação" e compreender o sentido da educação na vida dos sujeitos e esse caminho pode ser percorrido fundamentalmente com a ajuda do método científico que ao colocar em dúvida e levantar novos problemas no âmbito educacional pode nos conduzir a uma educação mais significativa.
  Segundo Charlot,
                                                     "a educação é um triplo processo de humanização,                                                                socialização/ingresso em uma  cultura, subjetivação/singularização." (p.49)






Referência

CHARLOT, B. A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene - prefácio à nova edição brasileira. In: _____. A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013. p. 33-50.

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